“Temos que lutar”, afirma o presidente da SBPC sobre falta de recursos da Capes

Devido o decreto n° 11.269, que zerou por completo a autorização para desembolsos financeiros durante o mês de dezembro, a Capes (Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior) anuncia a falta de recursos para pagamento das mais de 200 mil bolsas para os discentes de mestrado, doutorado e pós-doutorado. O depósito em questão estava previsto para acontecer até esta quarta-feira, 7 de dezembro. A informação foi divulgada em nota na última terça.

A Capes também citou os bloqueios orçamentários por parte do Ministério da Economia. O órgão informa que, diante deste cenário, cobrou das autoridades competentes a imediata desobstrução dos recursos financeiros “essenciais para o desempenho regular de suas funções, sem o que a entidade e seus bolsistas já começam a sofrer severa asfixia”. A Capes ainda enfatiza que tais solicitações foram impostas não apenas para assegurar a regularidade de seu funcionamento, como também para “conferir tratamento digno à ciência e a seus pesquisadores”.

Ir à luta

Frente à situação, Renato Janine, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), evidencia a necessidade dos estudantes não se calarem. “Não podemos deixar que o governo [atual] complete o trabalho de destruição que fez durante todos esses anos. Nós temos que lutar contra isso. [É preciso] pressionar a opinião pública, mobilizar a sociedade, falar com deputados. É um trabalho não só das instituições, acho que a opinião pública tem que ser alertada dessa tragédia que está acontecendo”, diz. Em edição extra lançada nesta quarta, o Jornal da Ciência – publicação da SBPC -, repercute o assunto e aponta a nota como “estarrecedora”:

“As entidades nacionais que compõem a Iniciativa para Ciência e Tecnologia no Parlamento Brasileiro – ICTP.Br denunciam mais uma vez a perversa manobra da gestão Bolsonaro, que nesse final de mandato prejudica diretamente milhares de jovens profissionais e estudantes cortando o pagamento das bolsas, impedindo que desempenhem suas atividades acadêmicas, de pesquisa e profissionais e possam dar continuidade à formação”

Angústia estudantil

Para o estudante de doutorado em psicologia clínica da PUC-SP, Caru de Paula, o sentimento é de angústia. Ele aponta a pesquisa como parte da vida do estudante. “Por mais que os temas não necessariamente atravessem a nossa vida, o ato da pesquisa produz deslocamentos que, para serem vividos com dignidade e se produzir um trabalho ético, dinheiro e financiamento é o que garante a nossa pesquisa com qualidade”, diz.

“Acho que a angústia vem um pouco disso, não saber se isso significa paralisação da pesquisa e, se sim, significa também a paralisação de outras esferas da vida. No meu caso, enquanto uma pessoa trans, acho que os campos da identidade ocupam um lugar importante. Tem um impacto de como retornar ao mercado de trabalho, por exemplo. Com quanto tempo isso será uma coisa dimensionável?”, indaga.

Fonte da Notícia: REVISTA ENSINO SUPERIOR