Será que o ensino superior voltará a ter cursos 100% presenciais? Tudo indica que não, ao menos nas instituições particulares. Se antes da pandemia a escolha dos vestibulandos estava entre dois extremos – totalmente presencial ou totalmente a distância (EaD) -, a partir de 2022 o híbrido dará o tom.
A pesquisa Adoção de aulas remotas – visão dos alunos mostra que 53,8% dos alunos de instituições privadas e 56,8% de universidades públicas querem a manutenção da experiência com as aulas remotas, porém com a existência de momentos presenciais. Um levantamento a respeito do sindicato nacional das mantenedoras, o Semesp, foi publicado em agosto. “As aulas remotas foram aprovadas, principalmente, pela melhoria das condições de vida dos alunos e professores, que ganham tempo. Porém, alguns aspectos precisam melhorar para a manutenção de um modelo permanente que combine aulas presenciais e online”, afirma a presidente do Semesp, Lúcia Teixeira.
Ela enfatiza que a abordagem centrada no aluno é fundamental na aprendizagem que combina presencial e online e para sua maior efetividade se recomendam espaços flexíveis de aprendizagem, ensino mediado por tecnologias, avaliações formativas e instruções claras dos educadores. É também importante ouvir os estudantes e considerar todos os aspectos da socialização, saúde mental e comunicação, bem como o desenvolvimento de competências.
Na Fiap, por exemplo, todos os alunos que ingressarem nos cursos presenciais a partir do próximo ano terão aulas em formato híbrido. Os estudantes vão às salas de aula em três dias da semana, terão um dia com aulas a distância ao vivo e outro com aulas assíncronas, nas quais irão acessar remotamente vídeos pré-gravados e outros materiais multimídia. “A pandemia nos trouxe alguns aprendizados, principalmente em relação ao ensino remoto. Discutimos bastante internamente e decidimos por oferecer uma entrega acadêmica com o melhor do presencial e do remoto”, explica o pró-reitor Wagner Sanchez.
A instituição investiu em modernização de salas, equipamentos e curadoria de conteúdos. Outro cuidado é com o estado socioemocional dos alunos no pós-pandemia: além da contratação de psicólogos, a instituição utiliza um software que faz análises preditivas de comportamentos, com base na participação dos alunos nas atividades. “Quando o programa sinaliza que o aluno não está interagindo, entramos em contato para entender o que acontece. Em casos de depressão, por exemplo, oferecemos apoio”.
Aluno resistente
Se a pesquisa do Semesp mostra que a aprovação ao híbrido cresce entre os alunos já matriculados na graduação, a percepção não parece ser a mesma quando são ouvidos os estudantes que ainda não se matricularam no curso superior. É que muitos deles trazem como repertório a má experiência do ensino médio cursado de forma remota. Moradora da Brasilândia, zona norte paulistana, Elisa Rodrigues da Silva, de 18 anos, sofreu com a dificuldade de acesso. “De vez em quando, a região sofre com apagões de internet e até de energia elétrica. Além disso, compartilho o nosso único computador da casa com a minha mãe, que é professora de fundamental”.
Mesmo quem teve acesso à boa estrutura de ensino remoto no ensino médio mostra reticência. Lara Jacinto Rangel, de 17 anos, cursa o 3º ano no Colégio Cervantes e pretende cursar Engenharia de Produção na USP ou na Unicamp. Entre as particulares, sua opção é o Instituto Mauá de Tecnologia.
Para ela, o modelo híbrido é uma opção interessante somente na fase final de um curso de graduação. “Acho que a modalidade não seria o ideal nos primeiros anos do curso superior. É um período de integração e estar presencialmente na faculdade faz parte disso”.
Na Faap, uma pesquisa realizada entre os meses de maio e agosto mostrou que 82% do público aprovado no vestibular e que não efetuou a matrícula prefere o ensino presencial. Fatores como a importância de vivenciar o campus e usufruir da infraestrutura e do convívio são determinantes.
Fonte: Estadão online
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