INDEFINIÇÃO NAS PÚBLICAS E MODELO HÍBRIDO NAS PARTICULARES: A VOLTA ÀS AULAS PRESENCIAIS NO ENSINO SUPERIOR

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, principalmente dos profissionais de educação, o ensino superior começa a ensaiar a volta às aulas presenciais em modelo híbrido. Parte dos alunos acompanha as aulas presencialmente e a outra parte ainda de maneira remota.

Estados como São Paulo, Ceará e Mato Grosso já autorizaram o retorno presencial das faculdades e universidades, e instituições de outros estados – boa parte atualmente em recesso – aguardam que as autoridades locais flexibilizem a permissão para a retomada. O objetivo de muitas é conseguir iniciar, de forma gradual, no sistema híbrido no segundo semestre.

Cursos com alta demanda por atividades práticas, como nas áreas de saúde e engenharias, já têm aulas presenciais em grande parte das instituições de ensino desde o ano passado. Mas é esperado, a partir de agora, uma flexibilização maior e a permissão para a volta às aulas presenciais nas demais graduações.

“Para esse segundo semestre podemos esperar uma ampliação significativa das instituições de ensino superior para o modelo híbrido, principalmente as particulares. A decisão desses governos, de liberar a volta às aulas presenciais, é acertada e vai ao encontro do que está acontecendo em outros países”, diz Sólon Caldas, diretor-executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES). 

“Se observarmos os países desenvolvidos, eles retomaram as aulas presenciais no meio do ano de 2020. E o Brasil perdeu todo esse tempo com essa discussão e acabou gerando prejuízos enormes com relação à retomada das atividades presenciais”, ressalta. Caldas explica que movimentos mais efetivos de retomada presencial neste semestre irão variar de região para região – de acordo com as campanhas de imunização e o controle da pandemia nesses locais.

Para Waldemiro Gremski, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), um modelo que deve ser assumido por grande parte das instituições é o HyFlex, com no máximo 60% dos alunos em sala de aula e o restante acompanhando remotamente. “Há uma tendência para essa possibilidade. Teremos alunos no presencial e outros no remoto, mas todos assistindo a mesma aula ao mesmo momento. Enquanto a vacinação não for total, será impossível a presencialidade de 100% dos alunos”, afirma. 

Universidades públicas podem demorar mais para aderir ao modelo híbrido
A maioria das universidades públicas resistiu a oferecer ensino remoto e, meses após o lockdown, parte delas ainda não havia disponibilizado nenhum tipo de conteúdo aos alunos. Pouco a pouco, as instituições foram começando a oferecer as aulas remotas; agora o desafio é retomar as atividades no modelo híbrido. A maior parte das instituições públicas ainda não decidiu pelo retorno, mesmo em estados que já autorizaram a volta às aulas presenciais.

Esse é o caso da Universidade de São Paulo (USP). Mesmo após liberação da retomada presencial pelo governo do São Paulo, publicada no Diário Oficial do estado no dia 7 de julho, a maior universidade brasileira decidiu, por ora, manter as aulas remotamente. A exceção são as atividades essencialmente práticas, que têm permissão para ocorrerem nas dependências da universidade. A USP informou, no entanto, que as implicações da decisão do governo estadual sobre a liberação das aulas presenciais serão consideradas em um comunicado futuro.

Da mesma forma, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) ainda não tem uma definição sobre a retomada presencial. Em março, a Unesp havia definido o sistema remoto como único modelo de ensino durante todo o ano de 2021. Apesar de manter em aberto a revisão da medida, na ocasião a universidade havia informado que considera ser muito difícil que isso ocorra.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que também figura entre as maiores do país, não tem previsão para a volta às aulas presenciais. No plano de cinco fases elaborado para o enfrentamento da Covid-19, a instituição está atualmente na fase três.

“A fase 3, chamada de Ensino Remoto, é a que a UFRJ se encontra atualmente e permanecerá enquanto os riscos de contágio da COVID sejam elevados. Tem como características o ensino remoto na graduação e na pós-graduação; trabalho remoto e trabalho presencial somente em atividades essenciais”, informou a UFRJ à reportagem. De acordo com a instituição, a fase seguinte, que contempla o ensino híbrido, “terá início assim que o risco de contágio for baixo (R abaixo de 1,0) e houver condições da presença segura de alunos, técnicos e docentes”.

Em maio, a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, declarou que a volta às aulas presenciais possivelmente não ocorreria na universidade em 2021 por falta de verba e destacou que havia chances de a maior parte das 68 federais do país fazerem o mesmo.

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) afirmou que as atividades presenciais estão ocorrendo em regime emergencial. Para a liberação das atividades práticas emergenciais, o professor da disciplina deve fazer a proposição, que será submetida à avaliação do colegiado de curso e do comitê de biossegurança setorial. Não há, entretanto, previsão de retomada mais abrangente no modelo híbrido.

Já a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) informou à reportagem que a retomada das aulas presenciais de sido feita de forma gradual – de acordo com as autorizações das autoridades sanitárias locais e o plano de retorno aprovado pela instituição. Atualmente, a UFMG registra 11 cursos em atividades presenciais, além de algumas atividades de pesquisa e extensão.

A universidade mineira diz que dará prosseguimento ao planejamento das demais atividades presenciais “assim que houver a devida autorização das autoridades locais, tendo em vista o planejamento da oferta de disciplinas para o segundo semestre de 2021, bem como o impacto na vida da comunidade e da cidade que esse retorno pode ocasionar”.

Por outro lado, a Universidade Federal do Ceará (UFC) definiu o retorno presencial para 27 de setembro. A decisão ocorreu após liberação por parte do governo cearense, no final de junho, para a retomada das aulas presenciais no ensino básico e superior. 

Instituições particulares planejam ampla retomada no segundo semestre
No setor privado, há grande movimentação para a volta às aulas presenciais no modelo híbrido. Boa parte das instituições prevê retorno para o segundo semestre. Para isso, porém, elas ainda dependem de autorização do poder público. 

No dia seguinte ao decreto do governo de São Paulo autorizando a volta às aulas presenciais, o Insper anunciou a retomada in loco para agosto, com limite de 60% da ocupação das salas. O retorno não é obrigatório, e os alunos que preferirem podem optar por se manter no ensino remoto.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) também pretende adotar o modelo híbrido no segundo semestre. A retomada será com limite de 50% dos alunos nas salas de aula. Da mesma forma, a FUCAPE Business School, que possui campus em cinco estados, anunciou retorno na modalidade híbrida a partir de agosto.

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) também informou à reportagem que no segundo semestre letivo haverá o retorno gradual das atividades presenciais, com a possibilidade de o estudante escolher se deseja ir ou não até a universidade. 

Já a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) não tem previsão de data para retorno em modelo híbrido. A universidade afirma que aguarda o avanço da campanha de vacinação contra a Covid-19 e melhores condições de retorno para todos os alunos. Atualmente, apenas alguns laboratórios das áreas de ciências estão realizando atividades presenciais na instituição.

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FONTE: ABMES