FIES AINDA VALE A PENA?

Criado em 1999 pelo Ministério da Educação (MEC), o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) foi desenvolvido com o intuito de ser um programa do governo para auxiliar no aumento de ingressantes no Ensino Superior privado brasileiro.

Nele, aquele que não tem condições de arcar com os custos do curso durante o período de graduação, financia o valor das mensalidades, que deverão ser pagas logo após o fim da faculdade.

Segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), entre os anos 2010 e 2017, mais de 2,5 milhões de pessoas ingressaram no Ensino Superior com a ajuda desse programa. Brenda Nunes, 23 anos, é estudante de Psicologia e financiou 100% do seu curso por meio do Fies.

“Optei financiar minha graduação com o Fies pela possibilidade de ingressar num curso no qual eu queria fazer, sem precisar pagar nada nesse meio tempo, pois somente meu avó trabalhava na época e não tinha condições de bancar a faculdade e ainda manter uma casa com mais três pessoas”, conta Brenda, que está no último ano de Psicologia.

Ainda de acordo com dados do FNDE, cerca de 59% dos contratos já firmados naquele período foram realizados por mulheres, com idade entre 18 e 24 anos (56%) e com renda máxima de um salário mínimo (47%).

Altos e baixos do Fies 
Desde a sua criação, o Fies passou por mudanças que proporcionaram altos e baixos em sua popularidade. Foram elas:

1999: mudança de Crédito Educativo (Creduc) para Fies;

2010: taxa de juros ajustada para 3,4% ao ano, além do aumento do período de carência para 18 meses, ou seja, o aluno teria até um ano e meio após formado para começar a fazer o pagamento do financiamento.

2015: aumento da rigidez do processo seletivo incluindo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como um critério de seleção. O interessado teria que tirar, no mínimo, 450 pontos para poder realizar a inscrição.

2017/2018: implementação do Novo Fies. Nessa versão, o Fies é dividido em duas categorias: Fies e P-Fies, sendo que a primeira possui juros zero e é voltada para pessoas com renda per capita mensal familiar de até três salários mínimos, já a segunda é para pessoas com renda per capita mensal familiar de até cinco salários mínimos, sendo que o financiamento é feito por bancos da iniciativa privada.

Para Sólon Caldas, diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior(ABMES), as últimas mudanças do Fies tiraram o seu caráter social e o transformaram em uma transação financeira.

“Na concepção em que foi criado, o Fies de fato não existe mais. As alterações promovidas nos últimos anos retiraram o caráter social da política pública, transformando-a em uma iniciativa com o caráter eminentemente fiscal e financeiro. Desta forma, a maior política pública de acesso à educação superior já desenvolvida no país tornou-se praticamente inacessível para os estudantes de baixa renda, que são os que efetivamente dela necessitam”, critica Caldas.

Quais são os pontos positivos e negativos do Fies?
Veja quais são os pontos positivos e negativos do Fies:

Positivos

  • Possibilidade de financiar até 100% do curso;
  • É possível financiar cursos mais concorridos e caros. Por exemplo, Medicina;
  • Não é necessário se preocupar com a dívida durante o curso;
  • Para aqueles que se encaixam na modalidade Fies, o juro é zero;
  • Juros mais baixos do que na iniciativa privada

Negativos

  • É preciso comprovar baixa renda para ter acesso ao Fies com juro zero;
  • O processo está mais burocrático e complexo. Uma consequência disso é que, de acordo com o G1, em abril de 2019, apenas 16% dos contratos a juro zero da seleção do primeiro semestre do ano tinham sido fechados;
  • É preciso realizar o aditamento semestralmente para garantir o manutenção do financiamento;
  • Não há mais prazo de carência. Assim que o formando conseguir um emprego registrado em carteira, as mensalidades começarão a ser descontadas na folha de pagamento.
  • Quem tem Fies paga mais caro do que aqueles que não têm o financiamento. E isso não tem nada a ver com o juros ou reajuste! De acordo com um levantamento da Controladoria Geral da União (CGU), as mensalidades cobradas de alunos com esse financiamento são, geralmente, 20% mais caras. O que resulta em uma dívida ainda maior.

O que considerar no momento da escolha?
Entretanto, apesar das ressalvas, o diretor ainda acredita que o Fies é a melhor solução para aqueles que não tem renda para bancar as mensalidades dos anos de graduação, visto que as taxas de juros ainda são mais amenas do que na iniciativa privada.

“O programa é fundamental para viabilizar o acesso à Educação Superior de estudantes que não se enquadram nas regras do Programa Universidade Para Todos (Prouni) ou não atingiram o desempenho necessário para serem aprovados pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu)”, aponta Sólon Caldas comparando o Fies aos outros programas oferecidos pelo governo.

O diretor da ABMES ainda aconselha que o estudante que estiver interessado em firmar o financiamento considere que esse valor terá que ser devolvido ao governo e que é necessário estar ciente da possível dívida posterior à graduação.

“Hoje, no ultimo semestre do curso, percebi que um dos maiores benefícios foi conseguir realizar meu sonho de estudar e ser a primeira pessoa da minha família a fazer uma faculdade. Porém, como todo bônus, também há o ônus. A divida que hoje eu possuo é em torno de 60 mil reais, dificultando muito qualquer possibilidade de financiamento além do Fies”, lamenta Brenda.

Já para André Narciso, diretor do Quero Bolsa, plataforma que oferece vagas e bolsas de estudo em faculdades e universidades privadas de todo Brasil, em entrevista para o Globo News, é possível levar em consideração mais um fator antes de adquirir, ou não, o Fies: a possibilidade de desconto.

“Acredito que a regra geral é: se você conseguir um desconto na mensalidade acima de 20%, a melhor escolha seria optar por pagar as mensalidades durante a graduação. Se você não tiver acesso a uma bolsa de estudo ou desconto com uma porcentagem maior que 20%, o Fies pode ser a melhor opção para você”, aconselha André.

Dica extra: simule o valor
Uma dica para quem ainda está na dúvida é simular os valores e projetar qual será o valor final da dívida. O Quero Bolsa possui uma ferramenta que realiza esse cálculo.

Atenção: essa ferramenta ainda mostra que o estudante terá o período de amortização da dívida. Porém, lembre-se que a partir do Novo Fies esse período não existe mais, os valores deverão ser pagos a partir do momento em que o formando conseguir um emprego formal e que isso for registrado em sua carteira de trabalho. Esse simulador serve apenas para ter uma base de qual seria o possível valor a ser pago após a contratação do Fies.

Por exemplo, imagine que, assim como a Brenda, você quer estudar Psicologia e, sem qualquer tipo de bolsa e desconto, as mensalidades custam, em média, R$ 850,00. Para conseguir fazer a simulação, clique aqui e informe as seguintes informações: renda familiar (veja como calcular renda familiar), valor da mensalidade e a duração do curso, ou seja, quantos semestres durará a sua graduação. Veja o exemplo:

Lembre-se que o simulador é apenas uma suposição do valor a ser pago após o fim da graduação. Além disso, o Fies permite que o aluno renegocie a dívida, a fim de diminuir o período de amortização, possibilitando a quitação da dívida em um período menor.

 
Fonte ABMES