Inovar para o país decolar

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e  Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCarioca

17/10/2022 06:00:01

Em 2022, o Brasil avançou três posições no Índice Global de Inovação (IGI) em relação a 2021, passando a ocupar o 54º lugar no ranking que abrange 132 países. Apesar de o resultado soar animador, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) pondera que essa melhora não significa que o país esteja bem na agenda de inovação, uma vez que os investimentos na área têm caído a cada ano e a posição brasileira está sete casas abaixo da melhor marca atingida, em 2011, quando ocupou o 47º lugar.

Em entrevista à CNN Brasil, a diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, atribuiu a melhora do país ao empenho dos agentes inseridos no ecossistema brasileiro de inovação, fazendo “mais com menos e obtido melhores resultados, apesar da queda nos insumos/investimento”.

De fato, a questão orçamentária é um grande gargalo para a inovação no Brasil. Após sofrer com contingenciamentos significativos nos últimos anos, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal fonte de financiamento à inovação do país, pode ter parte sua execução oficialmente travada nos próximos anos se MP nº 1.136, de 29 de agosto de 2022, for aprovada no Congresso Nacional. Para se ter ideia, somente em 2022 seriam cerca de R$ 3,5 bilhões a menos no orçamento da inovação, cerca de 40% do valor previsto originalmente.

Inovar não é luxo, mas necessidade em um mundo cada vez mais disruptivo e desafiador. Empresas que não inovam estão fadadas ao fracasso. Nações que não inovam estão condenadas a permanecerem à margem do progresso e do desenvolvimento socioeconômico. Inovar é necessidade primária para não perdermos o bonde da História, e o poder público precisa ter compromisso com sua parcela de responsabilidade nesse processo.

Parcela porque inovação é um processo coletivo. Ela ocorre em diversas esferas, inclusive (ou especialmente) no contexto das instituições de educação superior. Universidades estão entre os principais depositários de registro de propriedade intelectual no Brasil. Recentemente, durante o ápice da pandemia de covid-19, esses espaços de formação acadêmica foram centrais para o enfrentamento da doença no país.

Mas inovação não se restringe a criar novos produtos ou ter ideias geniais. A inovação também precisa se dar em outros espaços, como na forma de atuar das próprias instituições de educação superior. Por isso, o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular e o movimento #EducaçãoMaisForte destacaram a oferta de linhas de financiamento para estímulo à inovação nas IES como uma das 10 propostas para as políticas públicas educacionais.

Acreditamos que os órgãos públicos de financiamento para empresas, como o BNDES e a Finep, devem criar novas linhas que estimulem o investimento das IES em novas tecnologias digitais para fazer frente aos desafios trazidos pelas metodologias híbridas, pela inteligência artificial e pelos algoritmos de personalização da aprendizagem.

A melhoria da educação superior ofertada no país passa pela inovação, assim como a construção de uma nação melhor e mais igualitária para todos os brasileiros. Inovar não é um debate para o futuro, é uma urgência do presente. Temos potencial para muito mais, e o resultado obtido no IGI deste ano mostra isso. Temos capital humano para conduzir o Brasil a novos patamares de inovação e desenvolvimento. Mais investimento público nessa área é o combustível que falta para que possamos decolar “ao infinito e além”.