Educação superior e mercado de trabalho: uma aliança cada vez mais necessária

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCariocaoca

29/04/2024 06:00:01

“Aproximando empresas e universidades: como construir parcerias sustentáveis”. Este foi o tema que tive a oportunidade de debater, no último dia 23, na edição de 2024 do Bett Brasil, maior evento de inovação e tecnologia para a educação da América Latina. O congresso aconteceu entre os dias 23 e 26/04, em São Paulo (SP), e, pela primeira vez, a ABMES também se fez presente por meio de um estande próprio.

Juntamente com a Leyla Nascimento, vice-presidente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), e com o Max Damas, assessor da Presidência da ABMES, discutimos soluções focadas na aproximação entre as universidades brasileiras e o mercado de trabalho.

Este não é um assunto novo na esfera da educação superior privada. Faz algum tempo que temos trabalhado alternativas para construir caminhos mais eficazes para a preparação do profissional desejado pelo mundo corporativo, buscando romper com o velho discurso de que os egressos da graduação não estão preparados para atuar em um cenário cada vez mais inovador, competitivo e disruptivo.

Para isso, temos defendido uma série de ações que passam tanto pelo contexto regulatório quanto por uma maior preocupação – e atuação – das instituições de educação superior com essa agenda.

Não há dúvida de que essa aproximação passa, necessariamente, por uma atualização no marco jurídico que disciplina a oferta e a avaliação dos cursos de graduação no país. Por exemplo, precisamos avançar em questões como a flexibilização dos currículos, de modo que faculdades, centros universitários e universidades possam se desenvolver naquilo em que são melhores, além de trabalhar em sintonia com as demanda do mercado e as especificidades locais, como o desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos estudantes. Inclusive, este é um aspecto que precisa ser incorporado ao Enade, ampliando a avaliação dos formandos para além das questões relacionadas à formação profissionalizante em si.

Precisamos, ainda, que os órgãos reguladores olhem com atenção para a oferta de certificações mais curtas, sejam elas em nível técnico ou superior, permitindo que o mercado de trabalho consiga suprir com mais celeridade a necessidade de profissionais qualificados, em especial nas áreas onde há maior carência de mão de obra.

Por outro lado, temos sido enfáticos na argumentação de que essa não é uma responsabilidade exclusiva dos agentes reguladores. Cada IES precisa estar atenta e fazer a sua parte para que a conexão entre formação educacional e mercado de trabalho se concretize. Entre as formas de se fazer isso estão a inclusão de empresas nos conselhos de administração das instituições e o bom aproveitamento das oportunidades geradas pela extensão universitária, instrumento por meio do qual os jovens podem desenvolver projetos práticos em comunidades, adquirindo experiências e conhecimentos que contribuirão para seu desempenho profissional.

Outro instrumento relevante à disposição das instituições de educação superior consiste no  Indicador de Empregabilidade ABMES/Symplicity (IASE), desenvolvido pela Associação em parceria com a Symplicity com o objetivo de acompanhar os resultados dos egressos, possibilitando a criação de estratégias inovadoras que conectem a instituição às demandas e competências exigidas pelo mercado de trabalho. Inclusive, estão abertas as inscrições para as instituições que desejarem participar da edição de 2024 do indicador.

Seja em espaços estratégicos, como a Bett Brasil, ou nas nossas esferas diretas de atuação, a conexão entre a formação acadêmica e o mercado de trabalho é uma agenda que tem ganhado espaço e relevância, mas, como sabemos, precisa ir além.

Nós, enquanto instituições de educação superior, precisamos estar preparadas para entregar ao mercado o profissional que ele demanda, ao mesmo tempo em que o mercado precisa estar disponível para dialogar com as IES e os órgãos reguladores da política educacional. Estamos diante de uma aliança necessária e sem a qual a roda do desenvolvimento socioeconômico seguirá travada em nosso país.

A ABMES está atenta e trabalhando para estabelecer essa conexão, extraindo dela o que de melhor pode resultar para estudantes, setor produtivo e sociedade brasileira como um todo. Somos movidos pela convicção de que do estreitamento dessa parceria resultará uma nação mais próspera e justa. Vem com a gente!