A inteligência artificial como aliada da educação

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCariocaoca

06/05/2024 06:00:01

O anúncio, pelo governo do estado de São Paulo, de que a Secretaria de Educação passará a utilizar o ChatGPT para desenvolver aulas digitais para as escolas públicas resultou em um acalorado debate, muitas vezes fundamentado por uma perspectiva equivocada da medida.

Encabeçada pelo secretário Estadual de Educação, Renato Feder, a proposta parte do princípio de que a ferramenta de inteligência artificial vai agilizar a produção dos conteúdos. Contudo, os professores seguirão fundamentais, cabendo a eles a tarefa de avaliar e fazer os ajustes necessários nas aulas desenvolvidas pela IA.

O debate sobre os impactos da inteligência artificial na educação é relativamente recente e carente de aprofundamento. Ele ganhou corpo com o lançamento do próprio ChatGPT, no final de 2022, focado principalmente em como avaliar estudantes que passaram a ter respostas bem elaboradas e consistentes para qualquer assunto.

É verdade que antes já eram discutidas questões como a (im)possibilidade de a tecnologia substituir o professor, mas a popularização de ferramentas como ChatGPT, Gemini e tantas outras fez com que as comunidades escolar e acadêmica despertassem para uma realidade do presente, e não mais algo que impactaria a esfera educacional em algum momento do futuro distante.

O que pouca gente percebe, no entanto, é que faz algum tempo que a inteligência artificial está incorporada ao processo de ensino e aprendizagem. Ela está presente, por exemplo, quando o professor consulta o Google para elaborar seus planos de aula, pois a ferramenta apresenta as informações organizadas de forma inteligente e tem por trás uma inteligência artificial que seleciona os fatos mais importantes para cada solicitação. Se fato de o professor ser um grande curador do conhecimento do aluno não é novidade, por que a utilização de ferramentas que o auxiliem nessa tarefa precisa ser um tabu?

Mais do que nunca, o docente precisa exercer a função de curador da quantidade infinita de informações, desinformações e conhecimentos disponíveis na internet, inclusive por este ser um espaço com o qual os estudantes possuem relação de intimidade, seja para se divertir, estudar ou trabalhar.

Diante desse contexto, a questão a ser trabalhada consiste na abordagem e na utilização ética das ferramentas de IA. Isso passa, por exemplo, pela identificação da fonte do conteúdo – algo que pode ser solicitado ao próprio ChatGPT –; pela avaliação da qualidade e eventuais ajustes no material entregue pela plataforma (conforme estabelece a proposta da Secretaria de Educação de São Paulo).

Assim como uma pedra atirada e a palavra proferida, a utilização da inteligência artificial não tem volta. Seja na educação seja nas nossas atividades cotidianas, a IA é uma realidade sobre a qual não adianta lutar contra. Pelo contrário, a hora é de aproveitar ao máximo todas as suas potencialidades.

Para isso, um caminho promissor consiste no estudo da própria inteligência artificial, algo que pode ser facilmente resolvido com sua a incorporação nas matrizes curriculares pelas instituições de educação superior, a exemplo do que é desenvolvido na UniCarioca.

Inclusive, para quem quiser saber mais sobre essa agenda, durante o XVI Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (CBESP) acontecerá o workshop Políticas públicas educacionais e as modalidades pedagógicas, no qual a tecnologia (IA) será apresentada como ferramenta imprescindível. O evento acontece entre os dias 5 e 7 de junho, em Mogi das Cruzes (SP).

Em síntese, essa é uma discussão que se encontra desvirtuada. Temos que pensar não sobre como a ferramenta vai substituir o professor, mas como ela vai ser mais um instrumento para auxiliá-lo no exercício do seu melhor papel: o de agente facilitador da aprendizagem. Disso depende, inclusive, o sucesso do aluno em sala de aula.