Educação conectada

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCarioca

18/03/2024 06:00:01

Falar do futuro e das transformações que virão com ele se tornou um exercício recorrente nos dias atuais. Seja em qual esfera da sociedade for, esse tem sido um debate sobre o qual têm se debruçado desde os mais diversos especialistas até pessoas comuns, preocupadas e/ou entusiasmadas com as possibilidades que nos aguardam nos próximos capítulos da nossa existência. Como não poderia ser diferente, no universo da educação essa tem sido uma discussão recorrente – e cada vez mais urgente.

Um ponto que está nas rodas de debate, mas ainda não ganhou a merecida atenção, ao menos aqui no Brasil, diz respeito à atuação dos estudantes no processo de transformação pelo qual a educação precisa passar, em especial o ensino superior, responsável por entregar à sociedade profissionais capacitados para atuarem nas suas áreas, mas, também, cidadãos conscientes e capazes de construir novas bases sociais ao mesmo tempo em que desenvolvem estruturas capazes de romper com paradigmas que não se alinham às demandas e diretrizes contemporâneas.

Na matéria Jovens impulsionam reinvenção do ensino superior, publicada na edição do último dia 14 no jornal Valor Econômico, a jornalista Stela Campos destaca alguns aspectos do que viu e ouviu durante a 14º edição da conferência Reinventing Higher Education (RHE), realizada entre os dias 7 e 8 de março, nos Estados Unidos, pela University of Miami e pela IE University. O evento reuniu reitores, vice-reitores e especialistas de 40 universidades e evidenciou o papel dos graduandos na reformulação do ensino superior ofertado mundo afora.

Como sintetiza o presidente da IE, Santiago Iñiguez, “os estudantes se tornaram empreendedores sociais, são ativistas dessas causas e trazem novas iniciativas para as universidades. Da mesma forma, eles estão proativamente moldando seu processo de aprendizado”. Em relação à atuação das instituições diante desse cenário, ele acredita que, “pelo menos, 20% a 30% do que se ensina deve ser repensado todos os anos, assim, ao longo de três anos, tudo vai ter sido revisto”.

Nessa linha, o texto apresenta experiências de universidades que têm se destacado entre as mais inovadoras do planeta, o que me fez refletir sobre o quanto precisamos avançar, especialmente em termos regulatórios, para que o Brasil construa uma educação superior mais conectada tanto com as expectativas dos estudantes que ingressam em uma graduação quanto com as demandas de um mercado de trabalho que vem passando por profundas transformações, inclusive, muitas vezes, priorizando habilidades comportamentais ante aos conhecimentos técnicos.

Ao ler o título deste artigo, provavelmente, você imaginou que estivesse diante de um texto centrado em recursos como inteligência artificial, novas tecnologias educacionais ou, quem sabe, até em conexões estabelecidas por meio da internacionalização. Isso tudo, e muito mais, de fato faz parte das novas configurações que a educação do futuro precisa assumir. A utilização das novas ferramentas faz parte desse novo cenário e deve ser amplamente considerada, inclusive com a evolução para metodologias híbridas de aprendizagem que reúnam o melhor dos universos presencial e tecnológico.

Contudo, a educação do futuro passa, sobretudo, por uma profunda conexão com os estudantes de hoje e com os que virão. Essa é a chave para um processo de formação mais inspirador, efetivo e transformador. Formar pessoas a partir do propósito delas de fazer da Terra um lugar melhor para se viver deve ser o nosso Norte. E isso só será possível quando existir uma grande conexão entre anseios, recursos e um marco regulatório que nos permita decolar rumo a novos horizontes.

Muitas nações já iniciaram suas jornadas rumo à educação do futuro. O Brasil está atrasado, é verdade, mas essa é uma corrida que está longe de ser perdida. O mapa está traçado, nos cabe saber trilhar pelas rotas e fazer as devidas – e necessárias – conexões.