-O tempo urge

Celso Niskier
Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)
Reitor do Centro Universitário UniCarioca

Como diz o poeta, “os sonhos não envelhecem”, mas quais as consequências de postergarmos alguns deles? E se o sonho em questão for o de cursar uma graduação? Neste caso, além da frustração pessoal, há um significativo impacto social.

Em ambas as perspectivas preocupam os resultados da pesquisa Observatório da Educação Superior: análise dos desafios para 2021 – 1ª edição, segundo a qual 38% dos estudantes brasileiros têm a intenção de iniciar um curso superior apenas no segundo semestre de 2021 quando, acreditam, a vacinação em massa contra a Covid-19 já estará em andamento e será possível um retorno mais seguro às salas de aula.

Realizado pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insights em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), o levantamento feito em janeiro verificou um crescimento de 14 pontos percentuais, em relação a novembro de 2020, no número de estudantes que pretendem adiar para o segundo semestre de 2021 o início da graduação, em um claro desdobramento do recrudescimento da pandemia em território nacional e das dificuldades econômicas adicionais trazidas com o fim do auxílio emergencial.

Caso esse cenário se concretize, o prognóstico não é positivo para um país que tem na falta de mão de obra qualificada um dos seus principais entraves para o desenvolvimento socioeconômico. Em quatro ou cinco anos, tempo médio de uma graduação, podemos ter um apagão de novos profissionais entrando no mercado.

Trata-se de um quadro que demanda medidas emergenciais com o objetivo de estimular o ingresso dos estudantes ainda no primeiro semestre de 2021. E, dados o contexto e a urgência, pois o semestre letivo já foi iniciado em grande parte das instituições de educação superior, cabe às IES incidirem para reverter essa tendência.

Para isso, podem ser adotadas medidas como melhoria das condições de oferta comercial do curso e adaptações no semestre letivo. Vale lembrar que, em virtude da excepcionalidade do momento, está suspensa a obrigatoriedade relativa aos dias letivos, tendo sido mantida a exigência relativa à carga horária.

Nesse sentido, podem ser adotadas medidas como a criação de turmas intensivas com o início das aulas em abril, após a divulgação do resultado do Sisu, já que muitos estudantes preferem aguardar a seleção das instituições federais antes de se matricularem em uma IES particular. Outra opção seria convocar esses estudantes para se matricularem desde já com a garantia de recebimento do recurso investido caso sejam classificados para uma instituição pública.

A situação é grave e as instituições particulares de educação superior precisam assumir o protagonismo no desate desse nó. Caso contrário, além da sustentabilidade das instituições, estarão em jogo os sonhos de milhares de jovens e o futuro da nossa nação. Depois, como diz o dito popular, “não adianta chorar sobre o leite derramado”. O dia é hoje. A hora é agora.