– Últimas a fechar, primeiras a abrir

Celso Niskier
Vice-Presidente do SEMERJ e  Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro

Nos últimos meses, o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular intensificou suas ações no sentido de garantir o reconhecimento da educação como atividade essencial e, assim, mitigar os impactos da pandemia de Covid-19 no setor particular de ensino, mas, sobretudo, no desempenho escolar e acadêmico de milhões de estudantes brasileiros.

Faz um ano que a pandemia de Covid-19 chacoalhou as nossas vidas e nossas prioridades, estabelecendo limites e impondo distanciamentos. Nos primeiros meses, o desconhecimento e as incertezas em torno da nova versão do coronavírus fizeram com que medidas drásticas fossem necessárias, como o fechamento de todo o comércio não essencial e das escolas e instituições de educação superior.

O tempo passou, os comércios foram reabertos. Mas, as escolas, essas permaneceram fechadas por praticamente todo o ano letivo de 2020. De acordo com o Unicef, essa situação agravou ainda mais o cenário de desigualdade educacional no Brasil. O braço das Nações Unidas para infância mapeou que, em outubro de 2020, 3,8% das crianças e dos adolescentes com idades entre 6 e 17 anos (1,38 milhão) estavam fora da escola (em 2019 o percentual era de 2%). Além disso, 11,2% dos estudantes que diziam estar frequentando a escola (4,12 milhões) não haviam recebido qualquer atividade escolar – e não estavam de férias.

Na educação superior, pesquisa realizada pela ABMES em parceria com a Educa Insights constatou que 38% dos brasileiros que desejam ingressar em uma graduação adiaram o plano para o segundo semestre de 2021, quando, acreditam, a vacinação contra a doença estará mais adiantada e será mais seguro retornar às salas de aula. Esse índice é 14 pontos percentuais superior ao verificado em novembro de 2020.

Esses são apenas alguns números do complexo e grave panorama que se formou no contexto educacional em virtude da pandemia de coronavírus. Mas, passados 365 dias desde o início da crise sanitária, muita coisa mudou – inclusive a quantidade de informações relativas à Covid-19. Temos à disposição protocolos de biossegurança capazes de garantir o retorno seguro às salas de aula na maior parte do país, e em especial nas unidades particulares de educação. Além disso, já teve início a imunização da população prioritária. Ainda lenta, é verdade, mas com boa perspectiva para os próximos meses.

Aliás, a inclusão dos profissionais de educação na relação de prioridades do Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19 foi uma grande conquista do Fórum e anunciada pelo Ministério da Saúde no início de março. Por meio de ofício, a entidade apelou ao ministro para fazer valer o direito constitucional de acesso e permanência na escola, garantindo a essencialidade da área. Para isso, a vacinação de professores e demais profissionais da educação seria condição fundamental.

Por tudo isso é que, mais uma vez, no início deste mês o Fórum se manifestou a favor da abertura de escolas e de instituições de educação superior. Ciente do momento crítico de evolução da pandemia, por meio de um manifesto a entidade recomenda que “eventuais decisões sobre o fechamento temporário de unidades educacionais sejam tomadas em diálogo entre comitês científicos, autoridades sanitárias locais e gestores educacionais, tendo em vista a diversidade dos cenários regionais de transmissão do coronavírus, a essencialidade dos serviços educacionais e a necessidade de garantir o futuro das nossas crianças e jovens estudantes, que estão sendo imensamente sacrificados em seu direito à educação”.

A atual crise sanitária é muito grave e, de forma alguma, o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular nega isso. Contudo, tão ou mais grave podem ser os desdobramentos para o país caso escolas, faculdades, centros universitários e universidades permaneçam com as portas fechadas. Educação é serviço essencial e, como tal, precisa ter sua continuidade preservada. Ainda que a situação esteja longe da ideal, o setor educacional precisa ser o último a fechar e o primeiro a abrir suas portas. Os estudantes de hoje e a nação do futuro dependem disso.

FONTE: ABMES