Ferramentas de inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, são aliadas ou ameaças à educação? Especialistas ouvidos pela Folha defendem que elas podem ajudar no processo educacional, se utilizadas de forma crítica e ética.
Tudo depende de como trazemos essas ferramentas para dentro da escola, da universidade e da sala de aula, diz Celso Niskier, professor e diretor presidente da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior).
- “Se nós vamos trazê-la meramente para que possa substituir uma transmissão burocrática de conhecimento, isso certamente diminuirá o papel do professor e também empobrecerá a educação.”
- “Se usarmos essas novas tecnologias para que o professor possa focar o seu trabalho no desenvolvimento do pensamento crítico do estudante, no debate, no diálogo, incluindo a compreensão dos limites éticos na utilização dessas ferramentas, tudo isso vai ser enriquecedor para o ambiente escolar.”
A tecnologia cria um monte de possibilidades e também traz desafios com os quais teremos que lidar, afirma Diogo Cortiz, professor da PUC-SP e pesquisador no NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR).
- “Com ferramentas de IA, vejo uma aceleração no processo de transformação. É uma maneira de questionar a educação somente como forma de transmissão de conhecimento e refletir sobre o uso de metodologias ativas na educação.”
- “É preciso focar nas habilidades e competências dos estudantes, não somente no conhecimento transmitido.”
Fique de olho: acreditar cegamente nas respostas dadas pelo ChatGPT pode ser um perigo, alerta Martha Gabriel, professora e autora do livro “Inteligência Artificial: do Zero ao Metaverso”.
- “Há inúmeras limitações nessa ferramenta, por exemplo: sua base de dados de aprendizagem abrange apenas até 2021 e esse tipo de IA gera respostas criando, não informando. Por isso, se o objetivo é a busca de informação precisa e atualizada, essa não é a ferramenta ideal no momento.”
Proibir ou ignorar ferramentas de inteligência artificial não é a solução, defende Diogo Cortiz. É hora de trazer o ChatGPT para dentro da sala de aula e, junto aos alunos, trabalhar a ferramenta. Mas como fazer isso? Veja exemplos:
Letramento em IA
- Ensine o que é inteligência artificial (o termo abrange uma variedade de funcionalidades) e como usá-la;
- Discuta ética, moral e responsabilidade no uso das ferramentas;
“Da mesma forma que não se pode dirigir um carro sem conhecer seu funcionamento e as regras de trânsito, assim como seus benefícios e riscos, assim é também com a IA”, diz Martha Gabriel.
Exercício de senso crítico para avaliar a ferramenta
- Peça que o aluno busque no ChatGPT respostas sobre um tema específico de alguma disciplina;
- Depois, ele deverá avaliar as perguntas que fez para a máquina (Foram formuladas de maneira clara? Conseguiram obter as informações desejadas?);
- Peça também uma análise das respostas fornecidas pela ferramenta (De onde vieram? Quais as fontes? Como são construídas? São respostas éticas e legais?)
“O essencial é transmitir a mensagem de que o ChatGPT é só uma ferramenta que produz texto, não é necessariamente um repositório de conhecimento super confiável, não é um oráculo. É preciso que os estudantes aprendam a fazer perguntas melhores e, ao mesmo tempo, avaliem o que a máquina está respondendo”, explica Diogo Cortiz.
Suscitar um debate usando a ferramenta como instrumento de pesquisa
- Em vez de pedir uma redação sobre a Guerra da Ucrânia —algo que o ChatGPT pode fazer—, peça que o aluno busque informações sobre a guerra em diferentes fontes;
- Organize um debate sobre o tema. Questione como o estudante se sente a respeito de uma guerra, peça para que se coloque na posição dos ucranianos ou do russos e que discorra sobre malefícios que uma guerra traz..
“A ferramenta não substitui a subjetividade, o debate que só pode ser feito entre seres humanos. Que tal utilizá-la para desenvolver o espírito crítico do aluno, construir de forma conjunta o conhecimento em sala de aula e abordar os limites da ética?”, propôe Celso Niskier.
RELEMBRE QUE É O CHATGPT
“A inteligência artificial (IA) tem o potencial de ter um impacto significativo na educação, transformando a forma como os estudantes aprendem e como os professores ensinam. Assim como qualquer tecnologia, pode apresentar alguns riscos e desafios.”
É assim que o ChatGPT avalia seu próprio impacto no contexto educacional.
O que é: ferramenta gratuita criada pelo laboratório de inteligência artificial OpenAI que gera texto original sobre praticamente qualquer assunto como resposta a um questionamento. O programa é capaz de produzir artigos, redações, piadas e, até mesmo, poesia.
Por que importa: o chatbot da OpenAI conquistou 100 milhões de usuários em menos de dois meses. A capacidade de produção de textos por ferramentas de inteligência artificial fez universidades reverem métodos de ensino e gerou debates no meio acadêmico sobre plágio.
- A rede estadual de São Paulo planeja introduzir inteligência artificial nas escolas ainda neste semestre. Serão usadas plataformas que corrigem textos instantaneamente e propõem formas de aprimorá-los.
- Outros estados já aderiram a tecnologias semelhantes, como Paraná, Paraíba, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, por meio de projetos financiados por institutos sociais.
FONTE: ABMES
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