Os desafios do retorno presencial às instituições de ensino superior

As IES brasileiras ensaiaram a retomada gradual das atividades presenciais em diversos momentos desde o início da pandemia. Agora, com a vacinação em andamento e a consequente queda do número de infectados e mortos pelo coronavírus, uma nova tentativa de retorno presencial tem sido percebida.

O foco segue sendo nos cursos de saúde e em atividades que não são substituíveis por aulas remotas. Em agosto, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul ( PUCRS ) retomou a atuação presencial de 120 disciplinas práticas e de estágios obrigatórios, além de pesquisas e internatos do curso de Medicina.

“As adequações curriculares que estamos fazendo neste momento de excepcionalidade visam assegurar as aprendizagens preconizadas em cada área”, explica a diretora de graduação, Adriana Kampf.

O movimento é guiado por orientações do Ministério da Educação (MEC), diretrizes curriculares de cada curso e protocolos dos diversos campos de atuação profissional. Isso inclui a manutenção de um fluxo reduzido de pessoas e o cumprimento das medidas de resguardo sanitário vigentes.

A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) está no mesmo embalo. No início de setembro, os estudantes de Medicina retomaram as atividades práticas do curso. A impossibilidade de os alunos desenvolverem os aprendizados de forma remota foi um dos principais fatores considerados na decisão pela retomada. Isso afeta especialmente quem se encontra já no final da graduação.

Na Instituição de Ensino Superior de Cacoal (Fanorte), no interior de Rondônia, as aulas práticas voltaram já em agosto do ano passado, conforme as regras municipais. Em 2021, foi a vez das teórico-práticas. “Escolhemos as turmas mais avançadas, com as disciplinas que considerávamos mais difíceis de manter no remoto”, conta o diretor acadêmico Renan Manson. As aulas teóricas seguem virtuais.

Também houve a necessidade de transmitir aulas ao vivo para os estudantes de cidades vizinhas a Cacoal, que formam 50% do corpo discente da Fanorte.

Já na Faculdade Santo Antônio , localizada no interior de São Paulo, a retomada das atividades presenciais vem acontecendo de forma parcial e com sistema de revezamento, em que é permitido apenas 60% da ocupação das salas de aula.

A realidade do ensino superior após o fim da crise sanitária será diferente daquela que havia até março de 2020.

“O pós-pandemia deve ser muito planejado, sem achar que retornaremos para aquele cenário considerado normal anteriormente. Mais do que ser resilientes, precisamos ser flexíveis e identificar os ganhos que o ambiente virtual nos trouxe”, afirmou Denise Pires, reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em reunião da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Desde o início da crise sanitária, universidades e centros universitários de todo o país encontraram no ensino remoto a única alternativa para adequar suas estruturas às necessidades do momento. Superado o período atual, as aulas virtuais e o hibridismo devem se tornar mais comuns nos cursos de nível superior.

Nesse contexto, o corpo docente precisa se preparar para a aplicação de metodologias ativas e o uso de tecnologias digitais. É o que defende Adriano Teixeira, secretário de educação de Passo Fundo (RS). “IES que não capacitaram seus professores para utilizar Sala de Aula Invertida de forma eficiente prejudicaram o movimento de ressignificação dos espaços com foco na aprendizagem ativa”, afirma.

A adesão dos universitários aos novos modelos pode ser afetada pela falta de recursos necessários para a aprendizagem a distância. Um em cada quatro estudantes que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2020 não tem acesso à internet. E metade dos candidatos disseram não possuir computador em casa.

Atrair e manter os estudantes é outro dos desafios após a pandemia. A crise econômica e o desemprego gerados no período diminuíram o acesso ao ensino superior em instituições privadas. As IES precisam, portanto, avaliar meios de baratear os cursos ofertados, além de facilitar o pagamento – o que tem sido feito.

O levantamento Observatório da Educação Superior, feito pela Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior (Abmes) em parceria com a Educa Insights, verificou que 76% dos estudantes receberam algum benefício para rematrícula no período de pandemia. Os principais foram desconto por antecipação da semestralidade e financiamento ou parcelamento.

Outro ponto importante é a resistência à vacinação de alguns núcleos da sociedade. Essa postura pode tornar ainda mais complexo o processo de retomada às atividades presenciais nas IES. O Brasil e o mundo vivem uma onda de desinformação sobre as vacinas, o que tem afetado o ritmo da imunização.

Em São Paulo, algumas IES estabeleceram uma espécie de passaporte vacinal para o retorno. Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) definiram que apenas alunos vacinados com as duas doses de vacina contra a Covid-19 poderão frequentar as atividades presenciais – que devem retornar ainda em 2021. Serão priorizadas as aulas práticas (laboratoriais, de campo ou de exercícios) e pesquisas.

Na volta das atividades presenciais, as instituições devem considerar que a pandemia afetou mais do que o processo educacional e a rotina. O desenvolvimento socioemocional foi impactado como um todo.

“É preciso, antes de tudo, pensar no acolhimento dos nossos alunos. Protocolos de saúde são rigorosamente seguidos e ainda disponibilizamos apoio psicopedagógico a todos que necessitarem de qualquer tipo de suporte”, reforça Renata Perrenoud, diretora acadêmica da FSA.

Fonte: Desafios da Educação

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