Universidades devem ensinar o jovem a selecionar o que é ou não é importante em uma nova realidade mais dinâmica e multifacetada
O best seller 21 Lições Para o Século XXI, escrito por Yuval Noah Harari, autor de blockbusters editoriais como Sapiens e Homo Deus, traz um capítulo sobre processos educacionais com observações que podem servir de farol para os desafios do ensino superior no pós-pandemia. Para Harari, a última coisa que um professor precisa dar aos alunos é informação – isso será encontrado a qualquer momento, de qualquer lugar, e em demasia. Em vez disso, deve ajudar os estudantes a desenvolver a capacidade de combinar os múltiplos fragmentos da informação em algo que faça sentido, ensinar o jovem a selecionar o que é ou não é importante na nova realidade dinâmica e multifacetada do mundo.
Acrescenta-se a isso os efeitos ainda imprevisíveis da pandemia, e tem-se uma prévia de como, cada vez mais, a formação universitária deve ir além do conteúdo puro e simples. Aquele check-list padrão da escolha da instituição de ensino – como análise da grade curricular, infraestrutura e perfis de professores – já não é mais suficiente.
O documento “Cenários da Educação Superior Brasileira no contexto da Covid-19”, publicado pela Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior (Abmes) traz algumas questões importantes a serem ponderadas no momento de escolher onde fazer a matrícula da graduação. Dentre as propostas que os estudantes devem identificar nas instituições de ensino superior, o documento cita pontos como a valorização da aprendizagem ativa e conteúdos contextualizados e problematizados; novos métodos de avaliação que priorizem o raciocínio e a dúvida; processos de ensino-aprendizagem com foco nos problemas reais da sociedade e do Estado; incorporação do empreendedorismo e a internacionalização da formação acadêmica interdisciplinar; foco na formação baseada na relação professor facilitador e aluno protagonista; e garantias de que se adota a inclusão, a diversidade e a sustentabilidade.
Não é pouca coisa e nem um processo simples. Exige reinvenção e compromisso. “É necessário que as instituições apostem em aulas mais dinâmicas, com metodologias ativas”, afirma Celso Niskier, diretor presidente da Abmes. O objetivo deve ser o de “superar o descompasso existente entre a formação oferecida, a formação almejada pelos estudantes e a formação exigida pela sociedade e pelo mercado de trabalho”. “Na pandemia houve uma grande evasão de alunos que não se adaptaram ao tipo de modelo remoto conduzido e se desinteressaram. A instituição que é socialmente responsável sabe que deve se readequar para que o aluno se reapaixone pela educação, que veja a formação como algo para a vida inteira e uma volta ao futuro”, diz ele.
Tecnologia
O Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp também publicou recomendações para o ensino superior no boletim “Ensino, Pesquisa e Formação na Pós-Covid-19 e a Universidade que Precisamos”. O texto sugere medidas com eixo no uso de tecnologias para tornar as universidades totalmente conectadas, com acesso rápido e de boa qualidade para a comunidade externa e com menor burocracia. Isso inclui também melhor gestão e digitalização dos processos, oferecer ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) e formas eficazes de ensino híbrido.
Como exemplo, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) desenhou um plano de transformação digital. A proposta prevê a otimização de processos internos e posterior digitalização e, quando possível, automatização. Isso além de implementar mecanismos de avaliação e melhoria contínua dos serviços prestados aos cidadãos. O grande desafio é pensar na transformação e simplificação, e não apenas na conversão para um canal digital.
“Logicamente, a conversão já traz uma série de vantagens, permite que o cidadão solicite o serviço pela internet, a qualquer hora, sem precisar se deslocar, é um avanço importante. Mas se um processo é pouco otimizado, burocrático, custoso, e você converte isso para o digital, leva todas essas imperfeições”, afirma Ruminiki Schmoeller, coordenador de Tecnologia da Informação da Unila. “Entendo a transformação como um processo mais amplo e continuado.”
FONTE: Estadão
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