Fim da distinção entre modalidades. O que vem agora?

O crescimento dos cursos a distância é realidade há uma década. De 2011 a 2021, a expansão foi de 474%, de acordo com o Inep. João Vianney, sócio e consultor da Hoper Educação, vê a expansão da EAD se consolidar cada vez mais: “em 2023, o indicador de novos alunos na EAD pode bater o presencial pelo quinto ano consecutivo. É Penta. A nova série começou em 2019, quando a EAD conquistou 51,6% dos calouros. Alcançou 72,8% em 2021, e pode bater os 80% dos novos alunos em 2023”. Para ele, essa expansão tem como consequência o encolhimento do campus presencial.

Ele detalha que “a ociosidade nos blocos de salas de aula antes destinados ao ensino noturno será de 70% a 80%” e sugere: “a saída mais inteligente é transformar os antigos blocos em prédios de apartamentos de um ou dois quartos, para dar vida e utilidade integrada ao campus”.

Vianney desenhou esse cenário na pesquisa Tendências no Ensino Superior, para o ano de 2023.

Beatriz Balena, reitora da Universidade Veiga de Almeida (UVA-RJ), aposta em cursos EAD com mais interatividade e fortalecimento dos pólos para prover alguma presencialidade, além da intensificação dos cursos híbridos. Maurício Garcia, cientista digital e conselheiro acadêmico do Inteli, os cursos EAD continuam, em 2023, como alternativa para alunos de baixa renda, uma vez que o financiamento público, por meio do FIES e PROUNI, pode não expandir em função do orçamento apertado do novo governo. Para ele, se mantém a retração de matrículas nos cursos presenciais, mas não somente em função dos cursos EAD. As causas são diminuição de matrículas no ensino médio e envelhecimento da população.

Avaliação e regulação

As distinções entre as modalidades de ensino tendem a ruir e, para isso, são necessárias qualidade e regulação. José Roberto Covac, diretor jurídico do Semesp, menciona a regulação e avaliação como um ponto de atenção para esse ano. “Decretos que regulamentam a LDB e Lei do Sinaes sofrerão alterações em função de políticas públicas do atual governo, também pelo fato de mudanças, sobretudo na regulação, terem sofrido alterações somente em 2017, com a edição do Decreto nº 9057, de 2015 e do Decreto nº 9.235 de 2017 e portarias que regulamentaram. Justifica-se também pela adequação da legislação em função da expansão do EAD e a necessidade de deixar de ser tratada como modalidade”.

Fábio Reis, presidente do Consórcio STHEM Brasil e diretor de Inovação e redes de cooperação do Semesp, também aponta maior presença do MEC na dinâmica das instituições, com políticas públicas como a avaliação e a regulação impactando os cursos EAD. Para Gustavo Hoffmann, diretor do grupo A Educação e consultor externo do Sthem Brasil, é provável que as portarias de autorização para cursos de direito EAD sejam publicadas esse ano, apesar da resistência da OAB. Dale Johnson, diretor de inovação digital da University Design Institute, da Arizona State University, diz que a preferência pelo ambiente online se dá porque “os alunos buscam mais conveniência e acessibilidade na educação”. Em 2023, é possível que, pela primeira vez, a maioria dos alunos da Arizona State University se matriculem em programas de graduação online.

Cursos híbridos também avançam

Os cursos híbridos alavancam possibilidades de novos modelos de aprendizagem. Para Johnson, “a utilização do modelo híbrido para ensino aumentará porque os alunos estão exigindo experiências de aprendizagem mais envolventes e mais conexão entre o currículo e sua carreira”. Marina Feferbaum, coordenadora de ensino e pesquisa em Inovação e docente da Escola de Direito da FGV, menciona hibridismo e aprendizagem multicanais, com “possibilidades de desenhos de cursos que componham ensino a distância, hibridismo e presencialidade a partir das necessidades de cada etapa de formação, propósitos individuais e dos objetivos de aprendizagem de cada curso e contexto”.

A chegada de mais iniciativas voltadas ao ensino híbrido é inevitável para Wagner Sanchez, pró-reitor acadêmico da Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP). Para Sanches, essas iniciativas são bem-vindas na medida em que “privilegiarem o aprendizado do aluno, que a escolha do modelo – remoto online, assíncrono e presencial – seja em função do conteúdo a ser transmitido para o aluno, sempre impulsionando o aprendizado”. E acrescenta que por meio de “um hibridismo de qualidade, as IES podem oferecer jornadas de formação com mais flexibilidade de horários e dias da semana, além de proporcionar ao aluno a opção de escolha de conteúdos a serem consumidos dependendo dos objetivos de cada estudante a longo e curto prazo.

Um contexto favorável se aproxima na medida em que o ensino híbrido ganha consistência, de acordo com Ana Valéria S. A. Reis, especialista em metodologias ativas e membro do Grupo de ensino híbrido do Sthem Brasil. “Com o investimento recorrente das IES na capacitação docente e nos recursos tecnológicos, a atuação do docente e do estudante nos ambientes de aprendizagem presencial e virtual ganha maturidade e deve compor o perfil das IES”.

A pesquisa Tendências no Ensino Superior foi realizada pelo Semesp, consórcio Sthem Brasil e revista Ensino Superior. Foram ouvidos vinte especialistas, entre reitores, gestores e pesquisadores do ensino superior, locais e internacionais. Cada especialista apontou cinco tendências para 2023.

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Fonte da Notícia: REVISTA ENSINO SUPERIOR