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Educação de Jovens e Adultos tem mais jovens que adultos. E isso é ruim

Não é uma aterrissagem suave – está mais para um tombo. O número de estudantes na EJA, a Educação de Jovens e Adultos, vem caindo acentuadamente nos últimos anos. Os dados são do Censo Escolar 2022, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) na última quarta (8).

EJA é o nome dado ao antigo “supletivo”, oportunidade para a conclusão da formação escolar em diferentes idades. As aulas costumam ser dadas à noite, sobretudo na rede pública, em classes de faixas etárias e formações diversas. Ao final do curso, as turmas são submetidas a exames de verificação da aprendizagem para, então, receberem o diploma correspondente à fase concluída.

Eis o que diz o Censo: o total de alunos na EJA caiu de 3.545.988 em 2018 para 2.774.428 em 2022. Uma diminuição de 22%, mais pronunciada no Médio (25% de queda) do que no Fundamental (20%).

O perfil etário dos alunos muda conforme se avança na etapa da formação: nas séries iniciais do Fundamental, a mediana de idade é 46 anos; no Fundamental II, 25 anos, e no Médio, 24 anos. Ou seja: há mais jovens que adultos na Educação de Jovens e Adultos. E isso é uma má notícia.

Primeiro, porque é por meio da EJA que o Brasil poderia acabar com o analfabetismo. O Brasil ainda tem 11 milhões de pessoas maiores de 15 anos que não sabem ler ou escrever. O perfil é conhecido: adultos, geralmente pretos ou pardos, habitantes da zona rural. Esse contingente, equivalente a 7% da população que deveria saber ler e escrever, não está na escola. E o Brasil parece ter se conformado com isso.

Segundo porque a “juvenilização” da EJA significa que a modalidade está recebendo cada vez mais alunos do ensino regular. Conforme o Censo Escolar, entre 2019 e 2020 a migração foi de aproximadamente 230 mil alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e 160 mil do Ensino Médio. São, em sua maioria, estudantes com histórico de repetência ou abandono.

A busca precoce pela EJA acontece porque a lei permite o acesso à modalidade para pessoas com 15 anos de idade ou mais que não completaram o Ensino Fundamental e com 18 anos ou mais que não finalizaram o Ensino Médio.

Numa conta rápida: um aluno que estivesse na idade certa para o 6o ano (11 anos) em 2019, mas que tivesse largado a escola na pandemia ou ficado retido por um ano ou dois anos, já poderia pedir para fazer a EJA no Fundamental. Mesma coisa para um aluno com apenas uma repetência no Ensino Médio.

Mesmo estando bem perto da “idade certa” para a conclusão da etapa de ensino, muitos jovens acabam optando pela EJA por conta da rapidez – cada série é condensada em apenas um semestre – e da comodidade – em algumas instituições, dá para fazer aulas pela internet. A formação, como se sabe, é mais frágil. Uma coisa une os números declinantes de jovens e adultos na EJA: a crise sanitária da covid-19 é tida como a principal causa da evasão até aqui.

“Boa parte dos estudantes sumiu durante a pandemia. Tiveram de buscar sua sobrevivência”, diz Roberta Panico, diretora da Comunidade Educativa (Cedac). “Sobretudo adultos, que estão no mercado de trabalho e que, na crise, acabaram tendo de se desvencilhar do que pudesse estar no caminho da luta por sustento”.

Mas Roberta pontua que há problemas nesse formato de ensino que são anteriores. Segundo ela, falta aproveitar o potencial que os estudantes da EJA, pela própria vivência prática, já possuem. “Raciocínio lógico e cálculo mental, por exemplo, é algo bastante presente nesse alunado. Não se deve ficar apenas na ‘regrinha’ para fazer a conta. Nas Ciências, pode-se partir das crenças populares para questionamentos que os levem em direção ao conhecimento científico”, exemplifica.

Em resumo, a solução seria aproximar o que é ensinado da realidade dos alunos. “É preciso mais atenção à construção do sentido. As propostas pedagógicas precisam estar mais conectadas ao contexto desses jovens e adultos trabalhadores, pais e mães de família”. Ela ainda destaca que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), principal referência nacional para o que e como deve ser ensinado em sala de aula, segue ignorando a EJA. “Precisa pegar o que está como direito da Base e contextualizar para essa modalidade. Como apresentar isso numa metodologia coerente que caiba no tempo da Educação de Jovens e Adultos?”.

Isso significa pensar em questões infraestruturais, como transporte, merenda e organização do tempo. “Ousa-se pouco em EJA. Em Jundiaí (SP), houve uma proposta de escola sem parede, em que o aluno levava o material que estudava em casa e assistia à aula referente a esse material. E ele progredia. Por que não o tempo em que ele se dedica às atividades não pode ser contabilizado? Para quem trabalha, é difícil encarar mais quatro horas sentado na sala de aula.”

A formação de professores é outro entrave. A EJA é encarada no Brasil como uma espécie de “bico” por parte dos docentes, que recorrem à modalidade para complementar sua renda. “Por um lado, é um direito e uma necessidade. Por outro, não têm especificidade na formação”, afirma a especialista.

Para a especialista, é preciso um novo olhar para a modalidade como um todo. Uma alternativa é encarar a EJA como formação permanente, como ocorre em outros países. “No Brasil, EJA não pode ser visto como algo que vai passar. Não vai e nem pode acabar, se um dia a gente quiser virar um país desenvolvido. A EJA é vista como educação permanente no mundo todo. Aqui, a gente vê como um ‘remedinho’. É preciso mudar”, finaliza.

Fonte da Notícia: UOL

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