Depois de quase sete meses de adoção das primeiras medidas de isolamento social no estado de São Paulo, escolas de todos os níveis, faculdades e universidades, ainda convivem com um cenário de grande incerteza sobre a retomada de atividades presenciais, que estão previstas para retornar gradualmente no dia 7 de outubro. As indefinições sobre a reabertura das instituições educacionais, inclusive de ensino superior, ainda sob pandemia da covid-19, são uma questão global a ser solucionada. A ainda apresentam dificuldades operativas para o retorno ao funcionamento.
Por melhores que sejam as ferramentas e possibilidades de ensino e aprendizagem utilizadas para a realização de aulas e outras atividades virtuais, ainda é impossível transferir toda a experiência de formação no ensino superior para a tela de um celular ou computador.
Na 13ª Carta de Conjuntura do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura Universidade do Município de São Caetano do Sul (Conjuscs), tratei do tema das mudanças trazidas pela pandemia no ensino superior. A crise sanitária da covid-19 vem se consolidando, como fato histórico, em um ponto capital deste século. E determinando um “antes e depois” dessa enfermidade em nível global.
Transformações que ocorriam em um ritmo mais suave em grande parte das instituições, como a virtualização dos processos de aprendizagem, se transformaram em questões de prioridade máxima. A consultoria Educa Insights projetar que o volume de alunos em cursos on-line deve superar os matriculados no modelo presencial já em 2022. Segundo estudo divulgado pela Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), o processo é pelo momento que estamos vivendo, de pandemia de covid-19.
Desconectados
A adoção de ferramentas disponíveis entre as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) no ambiente educacional foi a tentativa mais comum no sentido de remediar as consequências do isolamento social a que ainda estamos submetidos. No entanto, em um país como o Brasil, onde ainda persistem inúmeras desigualdades, essa solução atendeu apenas uma parte do público que frequenta as faculdades e universidades do país.
Os questionários socioeconômicos, respondidos no ato de inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos últimos cinco anos, apontam que um em cada três estudantes não tem acesso à internet. E nem a dispositivos que possibilitem o acesso a programas de educação a distância. A análise, realizada pela plataforma interativa Quero Bolsa, aponta a dificuldade de universalização desse modelo educativo. Isso decorre de obstáculos socioeconômicos e da precariedade da infraestrutura de telecomunicações em algumas partes do Brasil.
As escolas privadas estão passando por problemas consideráveis para a sobrevivência pós-pandemia da covid-19, principalmente para as pequenas e médias instituições de ensino superior. A consultoria Atmã Educar indicou a diminuição de 17% no total de novos alunos previstos para 2020 (de 2,5 milhões para 2,06 milhões). As matrículas devem diminuir em 70%. Somente cento e oitenta mil, das seiscentas e vinte cinco mil matrículas esperadas, devem ser efetivadas.
Efeitos imediatos e o dia seguinte
As instituições de educação superior privadas já vinham sofrendo grande diminuição de recursos provenientes do Fies. O Programa de Financiamento Estudantil do Governo Federal era nove vezes maior em 2014 do que em 2019. A situação de falta de recursos acomete também as três universidades públicas paulistas. USP, Unesp e Unicamp terão diminuição nos recursos, grande parte vinculados a um percentual da arrecadação do ICMS, de pelo menos R$ 1,2 bilhão.
Esse cenário de tantas incertezas e dificuldades do ensino superior, tanto no Brasil como em toda a América Latina, foi a base do documento Covid-19 y Educación Superior: de los efectos inmediatos al día después. O trabalho foi elaborado pelo Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e Caribe (Unesco-Iesalc). E apresenta um plano composto por três fases, destinadas ao enfrentamento das consequências da pandemia e de medidas de retomada de atividades dentro do que se está convencionando chamar de “novo normal”. Primeiro, a continuidade pedagógica através do ensino a distância, Segundo, a retomada das atividades pedagógicas presenciais de acordo com as indicações das autoridades de saúde. E terceiro, a estruturação de um modelo de ensino híbrido, que inclua presencial e virtual.
O instituto também apela aos países e instituições para que tratem prioritariamente da falta de equipamentos e conectividade. E ofereçam serviços e aplicativos para telefones celulares, garantindo que alunos e professores tenham linhas de suporte constantes, por telefone ou on-line. Além disso, antecipa um declínio de curto prazo na demanda por ensino superior, devido à crise da saúde e suas conseqüências financeiras. E incentivando que seja considerado o papel do ensino superior nos planos de recuperação econômica e social, promovendo a cooperação internacional sobre esses temas.
Medidas compensatórias
A Unesco-Iesalc defende também a implementação de medidas compensatórias para apoiar o aprendizado de alunos desfavorecidos. Além disso, propõe a transferência de conteúdo curricular para formatos digitais, incluindo tutoria individualizada. E também a formação de pequenos grupos de aprendizagem para nivelamento e escolas de verão (ou inverno) que ofereçam atividades compensatórias.
Muitas dúvidas persistirão por um bom tempo no setor do ensino universitário. O funcionamento dessas instituições de maneira plena só virá com a descoberta de uma vacina ou medicamento que permita a retomada de suas atividades com o maior grau de normalidade possível.
No entanto, é necessário que se aproveite esse momento para refletir sobre medidas que adaptem as faculdades e universidades para o que está por vir.
Muitas delas vêm atuando de maneira destacada no enfrentamento às consequências do covid-19, e poderão seguir com tal destaque caso consigam acompanhar as transformações que irão se consolidar a partir do próximo capítulo da história da humanidade, que passaremos a viver depois de superarmos essa enorme crise global.
Fonte: ABMES
About The Author
Veja também
-
Pesquisa da CNI aponta deficit de 75 mil engenheiros no mercado brasileiro
-
Agora, lifelong learning para médicos
-
CAPES define valor de custeio para pós-doutorado
-
Instituições de ensino superior têm até 16/12 para aderir ao ProUni 2025
-
CNS recomenda ao MEC exigência de ensino presencial para graduações da saúde