Depois de alcançar um pico de financiamentos em 2014, quando chegou a ter 730 mil contratos ativos com estudantes universitários em todo o Brasil, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) passou, ao longo dos últimos anos, por uma série de modificações e restrições que levaram as instituições de Ensino Superior da rede privada a buscar alternativas.
No ápice, o Fies chegou a financiar as matrículas de 21,3% dos ingressantes nas universidades, centros universitários e faculdades particulares do país. Três anos depois, em 2017, apenas 5,7% dos novos alunos dispunham de um contrato com o programa do governo, conforme o levantamento “Panorama do Ensino Superior 2019”, realizado pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp). A alternativa consolidada pelo Ensino Superior privado, depois de perceber que o programa não voltaria aos mesmos patamares, foi oferecer crédito estudantil próprio para atrair mais matrículas.
O financiamento de estudantes universitários foi um dos temas tratados no 12º Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (CBESP), em Belo Horizonte – evento que contou com a participação do ministro da Educação, Abraham Weintraub. Na abertura do congresso, o diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Celso Niskier, defendeu a importância do financiamento estudantil.
— Financiar a educação superior é gerar mais renda, é recolher mais impostos e impulsionar a economia a partir de mão de obra mais qualificada. Financiar nossos jovens é construir um futuro melhor para o Brasil — disse Niskier.
Niskier defendeu ainda a simplificação da regulação da educação superior, pauta que recebeu o apoio no pronunciamento do ministro.
A alternativa encontrada pelas universidades particulares envolve mais riscos do que os oferecidos pelo Fies até alguns anos atrás. Sem a contrapartida do governo, muitas acabam assumindo parte dos juros, ou oferecendo isenções e bolsas na tentativa de atrair e evitar a evasão de alunos. Muitas não concordaram com o novo formato – bem mais restritivo – do financiamento, rebatizado como Novo Fies, e não aderiram ao formato.
— O mercado mudou, a demanda está menor e as estratégias para captação estão mais agressivas. O Ensino Superior privado vive isso desde a redução do Fies, que deixou uma lacuna muito grande. As faculdades estão criando financiamentos próprios e, ao longo dos anos, adotado várias soluções, que não são o núcleo de atuação dessas instituições — descreve Rafael Baddini, sócio-diretor da instituição de crédito universitário PraValer.
As alternativas ofertadas pelas instituições de Ensino Superior ou por organizações parceiras tentam atrair todos os tipos de público: há opções com descontos maiores em menos parcelas, sem juros ou com parcelas menores ao longo de mais tempo. Na tentativa de evitar os casos de alunos que, com um desconto progressivamente menor ao longo da graduação, desistem do curso quando as parcelas do financiamento começam a se tornar maiores, até o modelo tradicional de se pagar metade dos custos após a formatura tem encontrado alternativas, e no ano passado faculdades já começaram a adotar um modelo que cobra um terço da mensalidade durante o curso, e o restante, depois.
Os efeitos do investimento maior em crédito estudantil próprio, em consonância com a adoção cada vez mais restrita do Fies, são claras. Ainda conforme o “Panorama do Ensino Superior 2019”, 28,3% dos ingressantes em 2017 adotaram algum tipo de financiamento oferecido pela própria instituição em que eles se matricularam – em 2014, esse total era de 14,4%.
— Já foi sinalizado que dinheiro para Fies não vai existir. Eu entendo que essa é uma política equivocada do governo, porque precisamos colocar milhares de alunos no Ensino Superior. Mas não tenho expectativa de que o Fies volte a existir nos moldes que existia antes. As instituições têm efetivamente que trabalhar com recursos próprios para poder financiar esses alunos — diz o presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS), Bruno Eizerik.
O Fies foi o principal meio de financiamento das matrículas nas instituições privadas de Ensino Superior em 2013 e 2014, caiu para o segundo lugar em 2015 e, nos anos seguintes, passou a ser apenas o terceiro meio mais popular de crédito estudantil no Brasil.