O que querem os estudantes? Inovação!

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e  Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCarioca

03/10/2022 06:00:01

Estudantes preferem modelos de ensino que fazem uso de novas tecnologias. Essa afirmação, que até outro dia era feita com base na observação, agora tem fundamento estatístico. A pesquisa Direito, Psicologia e Enfermagem: qual é o formato preferido dos alunos?, desenvolvida pela ABMES em parceria com a Educa Insights, retira qualquer dúvida que poderia existir sobre essa questão.

Realizado com pessoas que ainda não estudam, mas pretendem cursar uma das três graduações nos próximos 12 meses, o estudo constatou que 59% dos interessados em cursos de direito aceitariam que ao menos parte do conteúdo fosse ministrado com o auxílio de tecnologias na modalidade a distância. Os percentuais também são elevados para os cursos de enfermagem (57%) e psicologia (46%).

O uso das novas tecnologias foi apresentado aos estudantes dentro do contexto dos quadrantes híbridos, modelo de oferta educacional desenvolvido pela ABMES e apresentado ao Ministério da Educação (MEC) segundo o qual as atividades podem acontecer de quatro formas: presenciais síncronas; presenciais assíncronas; virtuais síncronas; e virtuais assíncronas.

Apresentadas a essa estrutura, 93% das pessoas que pretendem cursar direito gostariam de ter modelos virtuais assíncronos, ou seja, acesso a aulas gravadas com conteúdo complementar às aulas “ao vivo” (presenciais ou virtuais), além do acesso a conteúdo teórico em ambiente virtual (apostilas, biblioteca digital e laboratórios virtuais, por exemplo). Entre os prospects de psicologia, 87% gostariam de contar com atividades virtuais assíncronas, índice similar ao verificado entre aqueles que pretendem cursar enfermagem (84%).

É interessante notar que em nenhum momento os entrevistados demonstraram interesse por um modelo 100% EAD, o que revela maturidade por parte do futuro estudante e conhecimento sobre como aliar o melhor de cada formato na sua formação acadêmica. Aliás, nunca é demais reforçar que não há, por parte do setor particular, a defesa por uma oferta que seja 100% a distância, como alguns querem fazer parecer com o objetivo de descaracterizar e desmoralizar o uso das novas tecnologias.

Oficialmente, a legislação brasileira prevê apenas duas modalidades de ensino: presencial e a distância. Isso não quer dizer, contudo, que as instituições de educação superior não possam inovar e alinhar seus processos de ensino e aprendizagem às novas tecnologias educacionais disponíveis, e que foram potencializadas durante a pandemia de covid-19. E, para isso, não há necessidade de qualquer alteração regulatória. Os instrumentos legais vigentes, ainda que sejam limitantes, deixam aberturas para a inovação no âmbito das IES.

Os três cursos analisados foram escolhidos por serem bastante representativos entre aqueles com o maior número de matrículas nas graduações presenciais. Contudo, é pouco provável que os percentuais de aceitação do uso de novas tecnologias sejam muito distintos nos demais cursos – talvez com exceção de medicina. Assim, a pesquisa se apresenta como aliada das instituições de educação superior para a tomada de decisões estratégicas. Não há mais espaço para cursos fundamentados em modelos do século passado. A ordem, agora, é inovar ou perecer.