Celso Niskier
Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCarioca
25/07/2022 06:00:01
Faz algum tempo que temos batido na tecla de que não há mais espaço para qualquer tipo de preconceito em relação aos cursos ofertados na modalidade a distância. Nem por parte dos estudantes nem do mercado de trabalho.
As últimas edições do Censo da Educação Superior do Inep/MEC e as pesquisas recentes realizadas pela ABMES em parceria com a Educa Insights já tinham mapeado o aumento significativo da aceitação dos discentes à EAD. Contudo, o que apresentamos à imprensa, aos gestores das instituições particulares de educação superior e ao ministro da Educação no último dia 19 vai além: os empregadores também não fazem mais distinção entre egressos de cursos presenciais e a distância.
De acordo com o Índice ABMES/Symplicity de Empregabilidade 2022 (IASE), o percentual de graduados de ambas as modalidades empregados após um ano da conclusão do curso é exatamente o mesmo: 69%. Em relação à renda, há uma variação média de pouco mais de R$ 340,00 a favor dos egressos na modalidade presencial. Essa diferença pode ser justificada muito mais pelo fato de uma parcela significativa dos graduados na modalidade EAD serem de cursos de licenciatura, cujos profissionais recebem, em média, R$ 2.392,86 ante os R$ 3.972,52 pagos aos egressos de cursos de bacharelado, do que por qualquer distinção entre os empregadores.
O Decreto nº 9.057/2017, que regulamentou a educação a distância no país, foi um divisor de águas. Passados pouco mais de cinco anos, não há dúvida de que medidas como a proibição de qualquer distinção nos diplomas de cursos presenciais e EAD contribuíram significativamente para que barreiras fossem transpostas. Ainda assim não é (ou era) comum vermos mudanças comportamentais dessa magnitude em tão pouco tempo.
É claro que fatores como a pandemia, a intensificação da crise econômica e os novos desafios impostos ao mercado de trabalho nos últimos anos também contribuíram para essa virada de chave em relação à educação a distância. E nada disso tira o mérito de uma medida visionária sem a qual os dois últimos anos teriam sido, certamente, muito mais difíceis.
Indo além, não podemos ignorar o fato de estarmos em meio à Era do Conhecimento, das comunicações instantâneas e do mundo a um clique. As tecnologias da informação e da comunicação transformaram a forma como o ser humano se relaciona com quem o cerca, com o planeta e consigo mesmo. Talvez, a educação a distância seja a modalidade de ensino que melhor tenha se apropriado das oportunidades trazidas pelos novos tempos. Talvez, por isso, ela tenha deixado para trás o status que a acompanhou por bastante tempo de “formação de segunda categoria”.
Não acredito que a educação superior vá migrar integralmente para a modalidade a distância, embora ela venha apresentando crescimentos substanciais ano após ano. Acredito, sim, que estejamos próximos a um ponto de equilíbrio que nos conduzirá para um formato híbrido capaz de unir o melhor dos dois universos.
A parceria entre a ABMES e a Symplicity vai continuar. O IASE será atualizado anualmente com o objetivo de apoiar as instituições de educação superior no aprimoramento dos seus currículos acadêmicos e os órgãos governamentais no direcionamento das políticas públicas da educação superior.
Uma grande transformação social está em curso e a educação superior é parte fundamental dela. Estudantes e mercado de trabalho não fazem mais distinção entre as modalidades de ensino. É chegada a hora de a legislação que rege o setor também caminhar neste sentido.