Celso Niskier
Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCariocaoca
No final de 2023, a imprensa noticiou com destaque a evolução implementada pelo governo de São Paulo na plataforma Redação SP. Com o auxílio da inteligência artificial (IA), a ferramenta, que até então apenas apontava erros gramaticais e ortográficos, passou a fazer toda a correção e atribuir notas aos textos escritos pelos estudantes dos ensinos fundamental e médio das escolas estaduais.
No que se refere à graduação, a pesquisa Inteligência Artificial na Educação Superior, realizada pela ABMES em parceria com a Educa Insights, mostrou que há grande aceitação por parte de estudantes e futuros estudantes em relação à utilização de ferramentas de IA para a correção de trabalhos e avaliações. No geral, 84% dos participantes disseram se sentir muito confortável, confortável ou neutros em relação a essa questão.
Como pontuei no artigo da semana passada, a aplicação da inteligência artificial no contexto educacional é uma evolução para a qual não há retorno. Pelo contrário, a tendência é que cada vez mais novos recursos sejam criados tanto para aprimorar o processo de ensino e aprendizagem quanto para auxiliar os docentes nas suas funções dentro e fora da sala de aula.
Nessa linha, chama a atenção a percepção dos universitários e prospects de que as instituições de educação superior precisam investir mais nessa área e incorporarem ferramentas de IA no ensino. Apenas 11% dos consultados pela pesquisa acreditam que esse investimento seja pouco ou nada relevante. Para 74%, trata-se de um investimento importante ou muito importante.
Para os estudantes atuais e futuros, a possibilidade de aprender a qualquer momento e em qualquer lugar (53%); o acesso a informações e conteúdos atualizados e diversificados (50%) e a melhora na eficiência e rapidez na resolução de dúvidas e problemas (49%) estão entre os principais benefícios da aplicação da IA no contexto educacional. Mas também são muitos os que acreditam na personalização do ensino (40%) e na redução de custos com materiais e infraestrutura educacional (40%).
Na outra ponta, os entrevistados foram claros ao listar a falta de interação humana (52%) e a dependência excessiva em tecnologias que podem falhar ou ficar obsoletas rapidamente (49%) como os principais desafios da utilização da IA na educação. Esse resultado deixa um alerta para as IES: é preciso, sim, investir em tecnologia, especialmente em inteligência artificial, mas não se pode perder de vista questões como relacionamento, especialmente entre docentes e estudantes, e a constante atualização tecnológica.
Está evidente, portanto, que a chegada da inteligência artificial à educação traz desafios que vão além de implementar ferramentas e capacitar os colaboradores e alunos para fazerem uso delas. A incorporação da IA aos espaços educacionais demanda uma nova forma de gerir as instituições e a concepção de modelos de ensino e aprendizagem capazes de extrair da tecnologia o que de melhor ela tem a oferecer, inclusive no que diz respeito à oferta de uma educação mais personalizada, atraente e inclusiva.
Para contribuir com as instituições educacionais, a comissão formada no Conselho Nacional de Educação (CNE), presidida pela Conselheira Mônica Sapucaia Machado e da qual serei o relator, vai se debruçar sobre o assunto, com vistas a preparar diretrizes de orientação para escolas e universidades.
O uso da inteligência artificial veio para auxiliar na transição da educação do século 19 para aquela necessária nos dias atuais. Instituições que souberem conduzir essa jornada se destacarão nas mais diversas frentes, como avaliação institucional e de cursos; índices de empregabilidade; e, principalmente, na avaliação positiva de estudantes e prospects. O cenário está posto, e ignorá-lo não me parece ser a melhor estratégia.