Celso Niskier
Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCarioca
24/03/2025 09:32:53
“A educação não pode ficar de fora de toda essa transformação que vem acontecendo no mundo”. De forma bem resumida, essa foi a tônica da entrevista que concedi recentemente ao CB.Poder, programa da TV Brasília em parceria com o jornal Correio Braziliense. Com uma pauta ampla, focada no cenário de profundas mudanças vividas pela educação superior brasileira, a conversa teve dois pontos de destaque: a aplicação da inteligência artificial (IA) ao contexto educacional e a expansão da educação a distância.
Conduzida pelas jornalistas Sibele Negromonte e Carmen Souza, a entrevista foi um espaço privilegiado de esclarecimento sobre temas que têm ocupado em grande medida a agenda do setor nos últimos tempos, mas também sobre a diversidade e a relevância do setor privado de educação superior brasileiro.
Em relação à utilização da IA, foi interessante exemplificar usos que vão muito além do auxílio de chatbots para a realização de trabalhos pelos alunos ou de avaliações pelos docentes. Muita gente ainda não sabe, especialmente aqueles que não estão inseridos no universo da educação, que a inteligência artificial possui enorme potencial para personalizar a experiência do aluno, identificando suas dificuldades e permitindo uma abordagem mais adaptativa no processo de ensino e aprendizagem. Ferramentas baseadas em IA já são capazes de prever quais estudantes têm maior risco de evasão ou necessitam de suporte adicional, possibilitando intervenções mais eficazes por parte dos educadores.
Também pude desmistificar uma preocupação que muitos professores têm sobre o impacto da IA em sua profissão. Ressaltei que a tecnologia não substituirá o educador, mas ampliará o seu papel. Isso porque o uso de modelos preditivos e de aprendizagem adaptativa fornecerá mais ferramentas para que os professores atuem como mentores, guiando os alunos de forma mais individualizada e eficiente. A IA tem tudo para ajudar a flexibilizar as trilhas de aprendizado e aprimorar a qualidade da educação sem comprometer a essência da relação professor-aluno.
Além disso, reafirmei minha posição de que a educação deve acompanhar as mudanças da sociedade e da tecnologia. Não podemos temer a inovação. Pelo contrário, devemos utilizá-la para fortalecer nosso ensino superior. Nesse sentido, tanto a nova regulamentação da educação a distância, que está prestes a ser publicada pelo Ministério da Educação, quanto a incorporação da inteligência artificial são passos fundamentais para garantir que a educação brasileira continue evoluindo e atendendo às demandas contemporâneas.
Por falar em EAD, a rápida expansão verificada nos últimos anos foi outro aspecto abordado. Enfatizei sua importância para democratizar o acesso à educação superior, especialmente em municípios que não têm condições de receber uma faculdade presencial. O resultado é que, hoje, mais da metade dos estudantes matriculados na educação superior estão na modalidade a distância, o que demonstra o impacto positivo desse modelo.
Nesse sentido, deixei claro que é grande a expectativa das instituições pelo novo marco regulatório que está sendo desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC). Como representantes do setor educacional, tivemos a oportunidade de nos posicionar em alguns momentos, como nas reuniões do Conselho Consultivo da CC-Pares. Contudo, ainda não sabemos em que medida o resultado final levará em conta as nossas contribuições.
Uma das propostas mais relevantes diz respeito à formalização do formato semipresencial, combinando elementos do ensino presencial e a distância. Esse modelo híbrido permitirá uma experiência acadêmica mais completa e alinhada às necessidades dos estudantes e do mercado de trabalho. Além disso, o MEC também definirá quais cursos poderão ser oferecidos integralmente a distância e quais precisarão manter componentes presenciais obrigatórios. Precisamos considerar o mundo digital em que os jovens estão inseridos. Não podemos adotar um modelo educacional que ignore essa realidade. Ao contrário, devemos aproveitar a tecnologia para tornar a aprendizagem mais dinâmica, acessível e atrativa.
Por fim, mas não menos relevante, conversamos sobre a valorização da educação superior como um fator determinante para a empregabilidade e o desenvolvimento profissional. No Brasil, os dados mostram que possuir um diploma universitário ainda representa uma vantagem competitiva no mercado de trabalho, garantindo melhores oportunidades e salários mais elevados. Precisamos reforçar essa percepção e incentivar os jovens a investirem em sua formação acadêmica.
Em resumo, a entrevista foi uma excelente oportunidade para esclarecer esses temas e reforçar o compromisso do setor privado com um ensino superior mais acessível, inovador e de qualidade. Agora, cabe a nós, gestores, educadores e formuladores de políticas públicas, trabalharmos juntos para construir um futuro educacional que respeite a tradição, mas que também abrace as novas possibilidades que a tecnologia nos oferece.