EAD e a força que vem do Sul

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e  Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro

04/10/2021

No último 23 de setembro, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior realizou mais uma edição do ABMES Regional. Desta vez, o foco foram as mantenedoras e instituições de educação superior da região Sul do país. Como já é tradição, além de esclarecer dúvidas sobre aspectos regulatórios e apresentar as tendências do setor, durante o evento foi apresentada uma pesquisa detalhada sobre a educação superior na região, responsável por 17,5% das matrículas nesse nível educacional no país.

Seguindo o fluxo verificado no Brasil, onde as novas matrículas na educação a distância saltaram de 16,1%, em 2009, para 43,8% do total em 2019, o crescimento da EAD também foi substancial na região Sul: 227% na última década, com uma evolução média de 28,5% ao ano.

Se, por um lado, esses números não chegam a surpreender, dado o crescimento exponencial da modalidade nos últimos anos, por outro a região conta com uma característica potencializadora: o perfil do estudante universitário dos três estados sulistas. Segundo a pesquisa apresentada pela ABMES, 59% dos alunos são mulheres e 42% têm 30 anos ou mais – a média nacional de 37%. Além disso, 67% dos estudantes trabalham, cenário 10% superior ao verificado no país como um todo.

Considerando o fato de vivermos em uma nação extremamente desigual em diversas esferas, a educação a distância muitas vezes se apresenta como o caminho possível para as mulheres, que enfrentam duplas e até triplas jornadas ao acumular os cuidados com a casa e com os filhos, e para aqueles jovens que não conseguiram ingressar na educação superior logo após a conclusão do ensino médio porque precisaram trabalhar para contribuir com a renda familiar e/ou porque não tiveram o suporte necessário para arcar com o custo das mensalidades.

Dadas as suas particularidades, com é amplamente sabido, a EAD é mais acessível tanto no quesito financeiro quanto no fator flexibilidade, atendendo quem já está no mercado de trabalho e busca uma melhor qualificação, bem como aquelas pessoas que vislumbram na conclusão de um curso de educação superior a oportunidade para melhorar de vida. E na região Sul, de forma especial, esse cenário se apresenta como um forte impulsionador da educação a distância.

Além disso, ou talvez por isso, não podemos esquecer que a região concentra os maiores grupos de educação superior a distância do país. Foi ali, mais especificamente nos estados de Santa Catarina e do Paraná, que surgiram a Unopar, Uniasselvi, UniCesumar, Uninter, Fael e Unisul, em um movimento impulsionado pelo primeiro mestrado de engenharia de produção a distância, lançado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 1996, como mostrou a repórter Beth Koike em matéria publicada no Valor Econômico.

Para além da desigualdade, a diversidade é outra marca forte do Brasil. Assim, ter a oportunidade de olhar de forma atenta e detalhada para cada uma das nossas regiões é um privilégio que o projeto ABMES Regional nos proporciona. Conhecer as especificidades de cada parte deste nosso imenso país nos permite oferecer um atendimento mais personalizado para os nossos associados, mas também a dialogar de forma ainda mais efetiva com os órgãos gestores das políticas educacionais. Afinal, as rotas mais eficientes são aquelas traçadas com o suporte de bons mapas. E nós estamos sempre em busca deles.

FONTE: ABMES