Como está a saúde mental na sua IES?

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e  Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro

21/02/2022 06:00:01

A pandemia de covid-19 ainda não terminou, mas o avanço da vacinação ao longo do ano que passou permitiu, neste início de 2022, a retomada das atividades presenciais nas escolas e faculdades de todo o país. Não há dúvida de que estamos vivenciando um momento de muita alegria para toda a comunidade acadêmica, mas quantos de nós paramos para pensar que os alunos e os docentes que estão voltando não são os mesmos que migraram para as aulas remotas há dois anos?

Por mais que o redirecionamento das aulas para o formato remoto tenha sido rápido e bem-sucedido, a forma inesperada como o processo se deu, a pouca ou nenhuma familiaridade com as tecnologias utilizadas, a perda de parentes e amigos, a tensão e o medo constantes diante de números trágicos, a redução da renda familiar, entre outros aspectos, se apresentaram como grandes desafios tanto para docentes quanto para estudantes nos últimos dois anos.

Levantamento divulgado pelo Instituto Semesp em agosto de 2021 mostrou que 91,1% dos estudantes das instituições particulares de educação superior e 94,2% dos alunos das universidades públicas relataram ter tido problemas de saúde mental durante a pandemia. Entre os professores, o cenário não é diferente: 93% relataram stress, fadiga e cansaço físico e mental.

Outra pesquisa, realizada pelo Instituto Península e divulgada em setembro de 2021, também mapeou a necessidade de apoio emocional neste retorno às atividades presenciais. Entre os docentes ouvidos, 57% responderam que gostariam de receber apoio psicológico e emocional, principalmente para lidar com as questões impostas pela pandemia.

É verdade que trata-se de uma questão delicada e sobre a qual muitos de nós, assim como nossas instituições, não fomos preparados para lidar. Contudo, este é mais um desafio imposto pela realidade e que, se bem aproveitado, pode se transformar em oportunidade. Oportunidade de termos corpos docente e discentes mais felizes, seguros e preparados para retomar a vida dentro dos novos padrões, do “novo normal” que há de se firmar no pós-pandemia.

O ideal seria que o país desenvolvesse uma grande política pública de saúde mental no âmbito educacional, mas, dado o atual contexto econômico do Brasil, é difícil que uma prática nesse sentido venha ser desenvolvida na dimensão necessária. Assim, a hora é de nos apoiarmos, buscarmos parcerias e trocarmos conhecimento sobre a questão.

Um bom primeiro passo pode ser a leitura atenta do levantamento Boas práticas de saúde mental nas escolas: um olhar para oito países, realizado pela consultoria Vozes da Educação a pedido da Fundação Lemann. O trabalho mapeou 23 boas práticas de saúde mental aplicadas em escolas da Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Estados Unidos, Finlândia, Reino Unido e Singapura, e apresenta de forma detalhada cada uma delas.

No geral, trata-se de ações encampadas pelo poder público e que contam com ampla rede intersetorial de apoio. Contudo, além de as iniciativas servirem de inspiração para possíveis projetos institucionais, na publicação são disponibilizados links para documentos e instituições que desenvolvem materiais de apoio que merecem uma análise atenta.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental refere-se a um estado de bem-estar no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses da vida, trabalha de forma produtiva e encontra-se apto a dar sua contribuição para sua comunidade. Portanto, investir na saúde mental é bom para o indivíduo que se beneficia diretamente, mas, sobretudo, para a nação como um todo. Bora voltar com saúde