A hora e a vez da educação híbrida

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e  Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro

06/06/2022 06:00:01

O crescimento dos cursos semipresenciais e a distância no pós-pandemia é uma realidade. A previsão, feita lá atrás quando o modelo remoto se mostrou viável, foi confirmada na última pesquisa realizada pela ABMES em parceria com a empresa de estudos educacionais Educa Insights. De acordo com o Observatório da Educação Superior: Otimização de oferta – Edição Maio/2022, as matrículas em instituições particulares na modalidade semipresencial cresceram 43% no primeiro semestre deste ano. Nos cursos presenciais o aumento foi de 39% e na EAD de 22%.

Esse resultado nada mais é do que a quantificação daquilo que vínhamos percebendo nos últimos anos: os recursos digitais disponibilizados neste século 21, alinhados ao perfil de uma geração que nasceu imersa nessa tecnologia e o impulsionamento da mudança de comportamento provocado pela pandemia de covid-19 expandiram de forma definitiva os horizontes do processo de ensino e aprendizagem.

É bem verdade que o cenário de crise econômica que há anos assola o país já vinha impactando significativamente no crescimento das matrículas na educação a distância. Contudo, não há dúvida de que o crescimento verificado nos últimos semestres, em especial no primeiro de 2022, quando os cursos presenciais já haviam retomado a presencialidade, deve-se ao inesperado fator pandemia.

Prova disso é que em pesquisa realizada em 2017 apenas 19% dos possíveis estudantes consideravam a EAD como opção. Em 2020, ainda antes da pandemia, esse percentual já tinha saltado para 40%. Um segundo levantamento realizado em 2020, mas já após a instalação da crise sanitária, constatou que 78% dos prospects avaliavam a possibilidade de cursar a graduação na modalidade a distância.

Outra constatação relevante do estudo divulgado em maio pela ABMES é a mudança no perfil dos estudantes dos cursos a distância. Aumentou o número de jovens em busca das flexibilidades oportunizadas pela EAD, reduzindo o público tradicional de pessoas mais velhas, que trabalham ou que buscam uma segunda graduação. O que seria esse resultado se não uma constatação de que a experiência da educação a distância durante a pandemia agradou?

Se é verdade o ditado popular de que “contra fatos não há argumentos”, estamos diante da prova cabal de que a educação precisa seguir em frente e se ajustar às demandas destes tempos disruptivos. E nesse novo cenário, o modelo dos quadrantes híbridos, desenvolvido pela ABMES como uma proposta para a educação superior brasileira, mostra-se cada vez mais alinhado com as demandas e as expectativas desse novo mundo que está surgindo no pós-pandemia.

Antes da pandemia o debate sobre o fim da divisão entre presencial e EAD já era uma realidade. Após tudo o que foi vivenciado e experimentado nos últimos dois anos, essa segmentação passou a ser ainda mais ultrapassada. Estamos na era da educação mediada pela tecnologia, e esse é um caminho sem volta. As políticas educacionais precisam se ajustar nessa nova direção para que não percamos o passo. A sociedade quer, as instituições de educação superior estão preparadas e o mercado de trabalho clama por um modelo educacional mais eficiente na preparação do profissional deste século. Temos todos os ingredientes à mão, só nos falta colocar a mão na massa