Educação em transformação

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCariocaoca

25/11/2024 09:30:00

2024 está chegando ao fim e, em poucas semanas, entraremos no ano que marcará o primeiro quarto do tão aclamado e disruptivo século 21. As inúmeras transformações ocorridas no planeta Terra nas últimas décadas podem ser avaliadas sobre diversas perspectivas, e aqui eu quero utilizar este espaço para falar daquela que me move e para a qual tenho dedicado a minha vida: a educação.

Como bem sabemos, essa história não começou com a troca do calendário. Ainda que nas duas primeiras décadas deste século o setor educacional tenha se mobilizado para ultrapassar as barreiras e os conceitos limitantes que mantinham a educação brasileira enraizada no século 19, muito pouco foi percorrido. Por aqui, uma transformação efetiva da educação só teve início, quem diria, quando a humanidade viu a sua existência ameaçada.

Há quem diga que um século só tem início a partir de um marco histórico. Quis o destino que o do século 21 fosse uma epidemia, decretada em março de 2020. Entre seus desdobramentos, nos últimos quatro anos vimos a educação brasileira avançar em uma velocidade até então inimaginável.

O distanciamento social necessário para conter a disseminação do coronavírus descortinou um novo mundo de possibilidades. Percebemos que entre as modalidades presencial e à distância existem diversas combinações, muitas delas intermediadas pelas tecnologias da informação e comunicação. Mais do que uma resposta para tempos de crise, os quadrantes híbridos da educação se apresentaram como um norte rumo a práticas pedagógicas e processos de ensino e aprendizagem mais conectados com as expectativas e as necessidades dos tempos atuais.

Outra consequência da pandemia, o crescimento exponencial das matrículas na educação à distância acendeu o alerta dos reguladores da política educacional para a necessidade de mudar a legislação e garantir qualidade nos cursos ofertados nessa modalidade. Como resultado, está sendo construído um novo marco regulatório para a EAD que tem tudo para ser inovador, acabando com o discurso de que a educação híbrida não é uma realidade, e efetivo na construção de indicadores de qualidade.

E o que dizer da inteligência artificial? Há algum tempo ela vinha dando sinais de que impactaria todas as áreas das nossas vidas, e a educação não ficaria de fora. Mas enquanto ainda vislumbrávamos as transformações que ela poderia ocasionar, no final de novembro de 2022 o ChatGPT foi lançado para o público geral e imediatamente nos obrigou a pensar novas formas de ensinar e, principalmente, de avaliar a aprendizagem dos estudantes. E isso foi só o começo de uma revolução que vai transformar totalmente a educação como hoje a conhecemos.

Esse ponto é tão importante e desafiador que o Conselho Nacional de Educação (CNE) criou uma comissão específica para debater caminhos para a educação brasileira no contexto da inteligência artificial. Com muita satisfação assumi a relatoria deste trabalho, indicação feita com base na minha formação na área da tecnologia, e doutorado exatamente em inteligência artificial.

Por tudo o que foi exposto até aqui, e também por tantos outros motivos plenamente conhecidos e que, se mencionados, deixariam este texto extremamente longo e enfadonho, é que podemos afirmar que o futuro é de transformações ainda maiores. A educação será reinventada por meio das novas tecnologias; da adaptação dos marcos regulatórios para os modelos híbridos de aprendizagem; e também da entrada de novos players no mercado educacional, incluindo pessoas, instituições, plataformas, cursos e influenciadores. 

No começo deste artigo eu disse que a educação me move. Na verdade, ela move o mundo, as pessoas e transforma vidas. O cenário de mudanças é evidente e será cada vez mais intenso. Não há espaço para quem segue agarrado a diretrizes e padrões que já se mostravam atrasados mesmo antes da pandemia. A educação está em plena transformação, e isso vai impactar não apenas a atuação do setor educacional, mas a construção de uma nova nação baseada na formação de cidadãos mais críticos, conscientes e preparados para os desafios do século 21. 

Não sabemos como será o segundo quarto e muito menos o terceiro e o último deste século que tem nos desafiado com a produção acelerada de novas tecnologias e conhecimento. Por ora, o que eu sei é que quero seguir do lado certo da história e dar a minha contribuição para a nova educação que vai surgir de todo esse processo. E você, já refletiu sobre isso? 

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