Desafios e caminhos para a educação brasileira

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCariocaoca

16/09/2024 06:00:01

A edição de 2024 do relatório Education at a Glance (EaG), publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra que o Brasil tem avançado em algumas questões sensíveis, como o nível de escolaridade da população e a redução do número de jovens que nem estudam e nem trabalham, os nem-nem. Contudo, na comparação global, os dados evidenciam o quanto a nossa educação ainda está defasada em relação ao resto do planeta.

Entre os destaques do levantamento está um fator primordial e decisivo em relação à prioridade dada à educação: o investimento. E o resultado brasileiro segue ruim: o país investe, em média, até três vezes menos recursos do que as nações com melhores desempenhos educacionais. No ensino médio, o gasto anual do Brasil é de USD 4.058 por aluno em escolas públicas, enquanto a média da OCDE é de USD 12.713. Na educação superior, os valores são, respectivamente, US$ 13.569 e US$ 17.138.

Com o tema Equidade na Educação, o documento mostra como diferentes grupos sociais (homens, mulheres, crianças de famílias de alta e baixa renda etc.) apresentam resultados distintos nos indicadores educacionais. Por exemplo, o estudo constatou que, no Brasil, há grande relação entre a escolaridade dos pais e a conclusão da graduação pelos jovens. Segundo a OCDE, apenas 1 em cada 5 jovens cujos pais não possuem ensino médio completo tem diploma de nível superior.

Ainda no que diz respeito à conclusão da educação básica, o levantamento não deixa dúvida de que esse segue sendo um desafio a ser superado. Embora o Brasil tenha registrado uma queda de 8% (em relação a 2016) no número de pessoas com idades entre 25 e 34 anos sem ensino médio, seguimos com 27% dos nossos jovens sem concluir o ensino médio. Esse índice é 13% superior à média da OCDE.

Em relação aos jovens que nem trabalham e nem estudam, entre 2016 e 2023 foi verificada a redução de 29,4% para 24%, sinal de que, também aqui, o país tem feito o seu dever de casa, mas em um ritmo aquém do necessário. Isso porque o Brasil segue com um índice quase 10% acima da média (13,8%) observada entre os países que integram a Organização responsável pela elaboração do estudo.

Outro aspecto que merece destaque diz respeito ao impacto da educação na renda dos indivíduos. Os dados mostram que, no Brasil, a educação tem mais peso sobre o salário do que em outras nações. Aqui, 59% dos que não concluíram o ensino médio ganham menos ou o equivalente à média salarial do país. Entre quem tem ensino médio, o índice é de 37% e cai para 19% entre os graduados. Nos países da OCDE essas taxas são, respectivamente, de 28%, 17% e 10%.

Esses são apenas alguns dados pinçados ao longo das quase 500 páginas do EaG 2024. Acredito, contudo, que eles contribuem para termos uma percepção ampla do cenário brasileiro. Vivemos em um país no qual a educação é um divisor de águas na vida das pessoas, sendo o principal e mais eficiente mecanismo de ascensão social. Além disso, há décadas somos “o país do futuro”, cujo porvir mais justo e próspero virá a partir da melhoria da educação ofertada a cada cidadão, independentemente da sua condição social ou qualquer outra característica individual.

Mais uma vez, o Education at a Glance nos mostra que precisamos otimizar nossas estratégias educacionais de forma a satisfazer as expectativas das pessoas e as demandas do país. Todos queremos uma nação mais desenvolvida, justa e igualitária que, como sabemos, só será alcançada com uma educação forte e de qualidade. Países que eram menos desenvolvidos que o Brasil chegaram lá. Com prioridade, trabalho e seriedade, nós também chegaremos.

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