O mercado educacional está se tornando cada vez mais competitivo. Mais de 2 mil instituições de ensino superior (IES) de educação superior privadas no Brasil iniciam o processo de captação de novos estudantes para o ano letivo de 2023 e o tema “escolha profissional” ganha muita notoriedade. O tradicional Experience Day como feiras, festivais e mostras de profissões associados a fortes campanhas comerciais são o foco do momento.
Atrair novos estudantes significa conhecer o que estão procurando e compreender melhor as expectativas pode auxiliar no aumento das matrículas.
Como gestora acadêmica e mãe de dois adolescentes que vivem intensamente esta fase, considero fundamental que qualquer abordagem mercadológica para este público seja tratada com muita seriedade para que possamos auxiliar de fato os candidatos e futuros estudantes a fazerem escolhas de modo consciente e com isso evitar potencial frustração e evasão.
Embora as aspirações de carreira dos jovens representem um bom preditor das profissões que passam a ocupar quando adultos, de acordo com pesquisa de Harvard, 95% das pessoas pensam fazer escolhas profissionais de modo autoconsciente. Mas apenas 10 a 15% realmente são.
Vale considerar que a maioria das pessoas gastará pelo menos 90.000 horas de vida trabalhando. Aqueles que não se aposentarão aos 65 anos ou escolherão empreender, poderão gastar muito mais – isso é mais tempo do que gastamos comendo, socializando e descansando combinados. Como passamos tanto tempo das nossas vidas em atividades laborais, não seria mais interessante que estas escolhas profissionais fossem por carreiras gratificantes, agradáveis e felizes?
Para ajudar os candidatos e futuros estudantes a tomarem decisões de modo consciente sobre suas escolhas e ainda dar clareza aos atributos de produto que uma instituição possui, sugiro proporcionar algumas reflexões essenciais por meio de 3 ideias-chaves.
1. Promova um momento para autoconhecimento no EXPERIENCE DAY
Há tantas coisas que sabemos sem estar conscientes e isso acontece porque não fomos ensinados a coletar e interpretar nossas experiências. Quando os futuros alunos parecerem indecisos durante as imersões, pelas abordagens comerciais ou mesmo por meio da navegação de sites de apresentação dos cursos, o melhor modo de ajudá-los a escolher um curso é promover reflexões sobre si mesmos.
Os rápidos exercícios abaixo podem ajudar a levá-los na direção certa.
Estimulem criar um autorretrato
Solicite que eles criem um autorretrato. Instigue-os a refletirem se são amigáveis, criativos, impacientes, engraçados ou organizados. Oriente a escrever uma lista de qualidades capaz de descrever a própria personalidade. Agora, convide-os a pensarem em qual tipo de curso de graduação melhor se encaixa na pessoa que sua lista descreve.
Inspire-os a considerarem pontos fortes e fracos
Oriente os estudantes a listarem pontos fortes e fracos. Com isso, podem se perguntar qual tipo de empregadores estariam interessados em seus pontos fortes. Se, por exemplo, o estudante listou que é um bom orador, explore os cursos de carreiras que exigem essa habilidade.
As fraquezas também podem dizer muito sobre escolhas. O candidato pode se afastar de carreiras que requerem habilidades em que considera não ser tão desenvolvido, então aproveite para mostrar como os diferenciais pedagógicos podem auxiliar em seu progresso, evitando que esse fator o mantenha longe de seus objetivos.
Crie modos de explorar as profissões
Ajude os candidatos a imaginarem-se atuando na profissão, cursando a faculdade, conseguindo um estágio, etc. Se está falando do curso de design, por exemplo, pergunte “ O que realmente faz um designer? ” Que tipo de oportunidades haverá no futuro para designers? Faça-os assumir papéis diferentes ampliando o repertório de possibilidade de atuação de uma profissão em uma esfera imaginativa.
2. Exercite o propósito e impacto social
A geração Z compreende os nascidos entre 1995 e 2010 e embora as datas variam de estudo para estudo, podemos afirmar que os ‘zoomers’ formam a primeira geração genuinamente constituída por nativos digitais, ou seja, pessoas que nasceram em um mundo no qual o uso da internet já estava popularizado.
Além da relação íntima com as tecnologias, são pessoas acostumadas a um ambiente totalmente conectados, abertos à inovação e à diversidade. Além disso, muitas vezes não se importam em morar na casa dos pais até encontrar um trabalho que realmente almejam. Isso significa que somente argumentar acerca do fator financeiro de uma profissão não será suficiente.
Outro ponto relevante trazido pela DoSomething Stategic é que 75% dos jovens compram de marcas que apoiam causas com as quais se identificam e 85% fariam trabalho voluntário. Além das causas sociais, 43% citam os programas de bem-estar como um motivo para permanecer no emprego.
É fato, esta geração busca o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e isso pesa na decisão. Auxiliar a estabelecerem seus propósitos, bem como o impacto social que o exercício profissional pode gerar, pode ser um aspecto altamente competitivo na hora de apresentar as profissões disponíveis.
Ajude os estudantes a perceberem como os cursos de graduação do seu portfólio dão a oportunidade de gerar mais valor para o mundo (muito mais do que as pessoas imaginam sobre alguma profissão).
Para ajudar os candidatos a perceberem o seu propósito e impacto social que a atividade profissional pode trazer, realize questões como:
Como você pode ‘fazer a diferença’ com a sua escolha profissional?
Quais problemas globais podem resolvidos com a sua atuação profissional?
Como suas prioridades de carreira provavelmente mudarão ao longo de sua vida?
Ao término da problematização, ajude os candidatos a elaborarem uma carta de missão (onde pretende chegar) e propósito de vida (por que quer fazer).
“Meu propósito é (aspectos essenciais) usando as minhas capacidades de (características) para realizar (objetivos), por meio por meio da carreira de (curso de graduação).
3. Reflita sobre a Zona de Gênio
Refletir sobre o fenômeno “The Zone of Genius” ou “zona de gênio” pode ser um grande diferencial competitivo e gerar maior valor no processo de captação dos novos estudantes por permitirem escolhas mais qualificadas.
Mas então o que é a zona de gênio?
O escritor americano Gay Hendricks em seu livro “The Big Leap: Conquer Your Hidden Fear and Take Life to the Next Level”, explica que a zona de gênio está no equilíbrio da relação entre realização e sucesso, e defende que a identificação da vocação para o exercício de uma carreira pode permitir que as horas dedicadas para o trabalho sejam mais agradáveis.
A zona de gênio é o espaço físico e mental onde seus interesses, paixões e habilidades convergem para te tornar imparável no desempenho da sua função. É aquele ponto ideal entre o que você faz bem e o que te satisfaz no trabalho.
Vale esclarecer que de acordo com os estudos de Hendricks existem quatro zonas em que podemos estar:
Incompetência: nesta zona, atua-se em algo que naturalmente não entende ou em que não tem habilidade.
Competência: quando se faz aquilo em que é eficiente, mas sabe que muitas pessoas também são, então, não consegue se destacar.
Excelência: É a fase que atua em algo em que é extremamente bom e consegue se destacar pela sua singularidade.
Gênio: É a fase ideal. Nela você utiliza as habilidades naturais, ao invés das que foram aprendidas. Nesse estado se encontra a inspiração contínua capaz de produzir trabalho único e se destacar muito além de qualquer outra pessoa.
A zona de gênio tem duas fontes de dados essenciais: sua genialidade e seu propósito. A genialidade é como pensa ou o modo que soluciona os problemas, permitindo que seja desafiado da melhor maneira possível. Já o propósito é o efeito que for mais significativo.
Como ajudar os estudantes a refletirem sobre a zona de gênio?
- Solicite que escreva três principais desafios que enfrentou e que o trouxeram até aqui e questione sobre o que foi mais difícil e o que aprendeu com cada um?
- Na sequência, indague sobre qual tipo de trabalho faria, mesmo que não fosse pago para isso? Geralmente, é algo que se adora fazer.
- Inspire-os a refletirem sobre o propósito e como a atividade profissional pode ajudar a gerar valor no mundo.
- Ensine-os a desapegarem do ego, ou seja, a pessoa pode até ser muito boa em alguma coisa e até muito elogiada pelo bom trabalho realizado, mas realmente não gosta do que faz, não está atuando na sua zona de gênio.
A conclusão do ensino médio é um momento decisivo para muitos jovens estudantes. Para outros, cursar graduação é escolha realizada anos mais tarde, mas independente do momento da escolha profissional, devemos fornecer atividades como palestras sobre perspectivas de carreira, competições empresariais, orientação, imersões em ambiente profissional, acompanhamento de empregos e estágios de trabalho que possibilitam que os jovens interajam com empregadores privados, públicos e do terceiro setor, além das reflexões conscientes, enriquecem o processo de escolha profissional.
Fonte da Notícia: REVISTA ENSINO SUPERIOR