Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCarioca
01/08/2022 06:00:01
Se você pudesse precificar o valor de ter sido alfabetizado, quanto valeria? E o valor de ter sido conduzido pelos caminhos do conhecimento nos primeiros anos de vida? A resposta para essas perguntas provavelmente será: incalculável. Contudo, apesar da relevância dessas ações nas nossas vidas, não é novidade que as pessoas que nos proporcionaram essas habilidades estão longe de ter o devido reconhecimento.
É claro que reconhecimento pode se dar de várias formas, mas não existe em uma verdadeira valorização profissional sem uma remuneração justa. E aí faço uma terceira pergunta: se os professores são tão importantes para a vida de todos nós, por que ainda são tão mal remunerados no nosso país?
A Análise de Empregabilidade de Graduados Recentes, realizada pela ABMES em parceria com a Symplicity, mostra como há discrepância na remuneração dos licenciados em relação aos graduados em cursos de bacharelado ou tecnológico.
Além de serem os recém-formados com o menor índice de empregabilidade após um ano de conclusão do curso (61% ante 70% entre os bacharéis e 69% entre os tecnológicos), os graduados em licenciaturas também são os que têm a menor média salarial: R$ 2.392,86, enquanto bacharéis recebem R$ 3.972,52 e tecnológicos R$ 3.709,48. Há que se registrar, contudo, que após um ano é possível que a maior parte dos licenciados ainda não tenha prestado concurso público ou tenha sido convocado, fator que incide no percentual de empregabilidade.
Esse resultado nos coloca entre os piores países do planeta no quesito remuneração de docentes. Segundo o relatório The State of Global Education – 18 months into the pandemic, produzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o piso salarial dos professores do ensino fundamental no Brasil é o mais baixo entre os 40 países pesquisados: 13,9 mil dólares por ano. A média entre os países da OCDE para esse nível é 36,1 mil dólares/ano.
Associada a esse cenário nada animador, o professor brasileiro encontra-se em uma fase de transição na qual precisa desenvolver novas competências, em especial as digitais; repensar sua forma de dar aula, colocando o aluno como protagonista do seu processo de aprendizado; e estar em constante processo de aperfeiçoamento profissional.
Conforme apresentado pela ABMES, ANEC e Instituto Península na publicação O professor que queremos: fatores de qualidade na formação inicial docente, ao ser responsável pela formação de quase 65% dos professores brasileiros, o setor particular de educação superior desempenha o papel estratégico de repensar a formação do futuro docente de modo que ele desenvolva habilidades como ter postura pesquisadora, reconhecendo situações escolares como objeto de estudo e reflexão; planejar e executar situações de aprendizagens em diversos contextos: presencial, remoto e híbrido; e avaliar a aprendizagem e o ensino, visando formas mais efetivas de desenvolvimento cognitivo, social e emocional.
Como se vê, são muitas as transformações – e cobranças – relativas ao professor deste século 21, mas pouco retorno financeiro para tanto comprometimento e dedicação envolvidos. Enquanto esse cenário não mudar, uma educação de qualidade continuará distante, visto que a carreira docente não é atrativa e seguirá mantendo as melhores mentes fora das salas de aula.
O momento demanda mais do que reflexão, demanda ações concretas para a valorização do professor. Da mesma forma que medidas estão sendo tomadas no sentido de formar o novo docente, também é preciso que o país reveja o tratamento dispensado à essa categoria profissional. Entre as consequências, além de sair das últimas posições dos rankings globais que medem o desempenho de estudantes e dos docentes, teremos uma profissão atraente e com o reconhecimento que lhe é devido.