“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.”

Max Damas

Assessor da Presidência do SEMERJ

Assessor da Presidência da ABMES e FOA

Escritor e consultor educacional

Talvez uma das chaves da nossa perenidade (como professores) não esteja no ensinar, mas na riqueza de tudo o que temos para aprender. A frase de Guimarães Rosa em “Grande Sertão: Veredas”, “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”, nos provoca a refletir sobre o novo papel do professor diante dos desafios da sociedade atual e dos avanços da inteligência artificial. Frequentemente, assume-se que os professores são apenas fontes de sabedoria, cujo principal papel é transmitir conhecimento. No entanto, essa perspectiva é ampliada pela visão de Rosa, que destaca a importância de aprender contínua e reciprocamente. Atualmente, espera-se que os professores não sejam apenas transmissores de conhecimento, mas que sejam aprendizes ágeis, capazes de integrar novas tecnologias e metodologias em suas práticas pedagógicas. Essa abordagem não só humaniza o professor, reconhecendo-o como um eterno aprendiz, mas também enriquece o processo educativo, tornando-o mais dinâmico e responsivo. Portanto, a capacidade de aprender dos professores não apenas complementa, mas é essencial para sua habilidade de ensinar.

Por exemplo, com a integração da inteligência artificial no ambiente educacional, os professores são desafiados a entender e aplicar essas ferramentas para personalizar o aprendizado, facilitar a avaliação e ampliar o acesso a recursos educacionais diversificados. Esta capacidade de adaptação e aprendizado contínuo é crucial, pois permite que os professores atendam às necessidades individuais dos alunos de maneiras inovadoras e eficazes. Na prática educacional, essa ideia pode ser exemplificada quando os professores são confrontados com novas tecnologias ou métodos pedagógicos, necessitando adaptar-se e aprender sobre estes para melhorar sua prática docente. Da mesma forma, o aprendizado sobre as experiências e perspectivas únicas de cada aluno também enriquece o conhecimento do professor, permitindo que adaptações sejam feitas para atender melhor às necessidades individuais dos estudantes.

Além disso, em uma sociedade marcada pela rápida evolução tecnológica e mudanças sociais, os professores precisam constantemente atualizar seus próprios conhecimentos e habilidades. Este processo de aprendizado contínuo não apenas enriquece sua prática pedagógica, mas também modela para os alunos a importância do aprendizado ao longo da vida.

Voltando à frase de Guimarães Rosa, ela ressalta profundamente o papel da humildade no âmbito da educação e do desenvolvimento pessoal. A humildade aqui é vista como a capacidade de reconhecer que, independentemente da quantidade de conhecimento ou experiência que se possua, sempre há novas oportunidades para aprender e crescer. No contexto educacional, essa humildade se manifesta quando os professores aceitam que, apesar de seu papel tradicional ser o de ensinar, eles também são aprendizes contínuos. Isso implica em uma abertura para novas ideias, métodos e até críticas que possam aprimorar sua prática pedagógica. Tal humildade é crucial para que os educadores possam se adaptar às rápidas mudanças tecnológicas e às novas necessidades dos alunos.

Por exemplo, um professor que humildemente reconhece a utilidade de feedbacks de alunos e colegas tem mais chances de implementar melhorias eficazes em suas metodologias de ensino. Da mesma forma, um educador que se mantém aberto a aprender sobre novas tecnologias e pedagogias mostra uma humildade que não só beneficia seu próprio desenvolvimento profissional, mas também enriquece a experiência de aprendizado de seus alunos.

Portanto, a humildade destacada na frase de Rosa é uma virtude essencial que sustenta uma visão de educação como um processo recíproco e contínuo de ensino e aprendizagem, onde todos, professores e alunos, são vistos como aprendizes em uma jornada compartilhada de descoberta e crescimento. Adotar a postura de humildade e aprendizado contínuo pode ser desafiador para os professores por várias razões, especialmente devido às expectativas e estruturas tradicionais do sistema educacional:

  • Expectativas de Autoridade: Tradicionalmente, os professores são vistos como as autoridades máximas em sala de aula, responsáveis por possuir e transmitir conhecimento. Assumir uma postura de aprendiz contínuo pode ser percebido como uma vulnerabilidade ou uma falta de autoridade, o que pode ser difícil de conciliar com essa imagem tradicional;
  • Pressão por Expertise: Há uma grande pressão sobre os professores para que sejam experts em suas áreas de ensino. Admitir a necessidade de aprender mais ou atualizar conhecimentos pode ser visto como uma falha profissional, em vez de um ato de desenvolvimento profissional contínuo;
  • Resistência à Mudança: Mudanças, especialmente aquelas que envolvem a integração de novas tecnologias ou metodologias, podem ser intimidadoras. Alguns professores podem resistir a essas mudanças devido ao conforto com práticas estabelecidas ou por falta de tempo e recursos para se adaptarem;
  • Falta de Tempo e Recursos: Muitos professores já enfrentam cargas de trabalho elevadas, incluindo planejamento de aulas, correção de trabalhos e responsabilidades administrativas. Encontrar tempo para o próprio aprendizado e desenvolvimento profissional pode ser um desafio significativo;
  • Ambientes de Suporte Limitados: Nem todos os ambientes escolares fornecem o suporte necessário para o desenvolvimento profissional contínuo dos professores. A falta de acesso a treinamentos, recursos educacionais atualizados e apoio institucional pode limitar as oportunidades para que os professores se engajem no aprendizado contínuo;
  • Cultura de Perfeccionismo: Em alguns contextos, a cultura educacional pode promover o perfeccionismo, onde erros são malvistos. Isso pode desencorajar os professores de explorar novas áreas ou admitir abertamente suas necessidades de aprendizado por medo de julgamento.

Portanto, para que os professores adotem efetivamente a postura de aprendizes contínuos, é essencial que as instituições educacionais reconheçam e apoiem essa abordagem, criando culturas onde o aprendizado contínuo seja valorizado e incentivado.

No vasto terreno do conhecimento, onde as sementes da curiosidade são semeadas sob o sol do entendimento, o professor se ergue como um jardineiro sábio e paciente. Guiado pela luz da frase de Guimarães Rosa, “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”, ele percebe que a verdadeira maestria não reside apenas em cultivar o saber, mas em nutrir um terreno fértil para o aprendizado mútuo.

Na paisagem moderna da educação, onde a tecnologia e a sociedade se entrelaçam como vinhedos em constante crescimento, os professores enfrentam desafios sem precedentes, mas também descobrem ferramentas inovadoras que transformam obstáculos em oportunidades de crescimento. Ao aceitar que são eternos aprendizes, eles renovam não apenas suas práticas pedagógicas, mas reafirmam sua relevância em um mundo em evolução. A humildade se torna, então, o solo rico do qual novas possibilidades brotam. Cada momento de aprendizado é uma chuva refrescante que dissolve as barreiras do perfeccionismo e irriga as raízes da inovação. Assim, mesmo diante de dificuldades, como a resistência à mudança ou a falta de recursos, o professor resiliente se adapta e prospera, fortalecido pelo apoio de comunidades que valorizam o desenvolvimento contínuo.

Portanto, olhando para o futuro, podemos ter confiança na profissão de professor. Assim como o rio que molda constantemente suas margens, os educadores moldam e são moldados pelas novas gerações e tecnologias, garantindo que sua jornada seja marcada não só por ensinar, mas também por aprender. E nessa dinâmica perpétua de dar e receber, a profissão docente se mantém não apenas relevante, mas essencial — um farol de possibilidades numa era de transformações rápidas e profundas.

About The Author