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Triplicar ensino técnico daria ganho no PIB de até 2,32%, indica estudo

Se o Brasil dobrasse ou triplicasse o número de vagas oferecidas no ensino médio técnico, isso implicaria aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de até 2,32%, indica estudo recém-concluído do Itaú Educação e Trabalho. A pesquisa, realizada principalmente ao longo de 2022, traz ainda um retrato dos “prêmios salariais” por faixas de formação no país.

A pesquisa observou quais seriam os efeitos da expansão do ensino médio técnico para indicadores macroeconômicos. A aposta no ensino profissionalizante é vista por pesquisadores como uma estratégia para desenvolver capacidades ao mesmo tempo que pode ampliar a produtividade no país.

Além do PIB, entrou na conta o que aconteceria com a concentração de renda (índice de Gini) e, ainda, com o “ganho de bem-estar” da população — medido pelo aumento do consumo das famílias em decorrência da melhoria da escolaridade e, consequentemente, da renda. Com mais pessoas integrando faixas salariais mais altas, o índice de Gini passaria de 0,58 para 0,55. No índice de Gini, quanto mais perto de zero, menor a desigualdade. Haveria também um aumento médio de até 0,38% do consumo de famílias.

Para aumentar as vagas seria preciso ampliar investimentos públicos destinados ao ensino médio dos atuais 1,18% do PIB para 1,27% para dobrar o número de vagas e para 1,35% se o país quisesse triplicar as cadeiras. Segundo o modelo, o dinheiro sairia de impostos de renda, sobre a folha e sobre o consumo. O investimento do governo aumentaria, mas com a elevação do PIB o efeito fiscal “seria nulo”, disse o pesquisador.

Com a população brasileira “envelhecendo”, conforme indicaram os dados do Censo divulgados em junho pelo IBGE, tornam-se ainda mais urgentes as mudanças relacionadas à educação. Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, chama a atenção para o fato de que 88,8% dos jovens estão matriculados no ensino médio público. “São os adultos de amanhã. Que políticas estamos propondo?”

Ela avalia que a educação profissional é uma parte necessária do desenvolvimento da população jovem, e não é “um fim em si mesma”. Em outras palavras, quem opta por esse caminho não precisa congelar a carreira nesta etapa. Entre as frentes de trabalho da instituição, que integra a Fundação Itaú, está a contribuição aos Estados, por meio de apoio técnico, para que os agentes públicos elaborem políticas de educação profissional.

O Brasil forma pouca gente no ensino médio técnico: 8% entre os que concluem o ensino médio. Para efeito de comparação, nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média é de 37%.

O estudo mostra que esse dado é baixo não por falta de interesse do brasileiro, mas por baixa oferta de vagas. O Centro Paula Souza, maior ofertante de ensino técnico do país e referência no estudo, atende a 20% da demanda. A instituição reúne 226 mil estudantes em 216 cursos. Ao todo, o país tem 800 mil matriculados na modalidade.

Turbinar” o ensino técnico teria efeito similar ao da reforma tributária

— Sergio Firpo

Se o número de cadeiras no técnico dobrasse, mostra o estudo, a proporção de trabalhadores com esse grau de formação ou o nível superior aumentaria 5,74%. Caso a quantidade de vagas aumentasse três vezes, a alta na proporção de trabalhadores de médio técnico ou superior seria de 10,4%.

“É um estudo bastante simplificado sobre o que ocorreria Não avançamos sobre demandas dos setores ou quais cursos poderiam ser ofertados”, resume o pesquisador Sergio Firpo, que conduziu o estudo, inicialmente pelo Insper, junto com Marcelo Santos, Vitor Fancio e Clarice Martins. “Algumas conclusões, contudo, não são nada desprezíveis.” Em fevereiro, Firpo passou a integrar a equipe do governo federal, ao assumir a Secretaria de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos, do Ministério do Planejamento e Orçamento.

O pesquisador destaca que “turbinar” o ensino médio técnico traria um efeito ao PIB similar ao da reforma tributária – à espera de votação no Senado Federal. Segundo divulgou o Ipea na semana passada, lembra ele a reforma poderia contribuir com um crescimento de 2,39% da economia do país na década – parecido com o efeito do investimento em ensino técnico, de crescimento de 2,32%, estimado pelo estudo. “E ambos os trabalhos são conservadores” em relação ao potencial efeito no PIB.

Vitor Fancio informa que a movimentação foi considerada na faixa entre 24 e 65 anos da força de trabalho, ou seja, num universo que soma 105 milhões de brasileiros. Destes, 989 mil pessoas têm formação no ensino médio técnico atualmente; enquanto 50,7 milhões de indivíduos têm o fundamental e, 34 milhões, o médio tradicional. No superior são 18 milhões.

O aumento de oferta de pessoas com melhor grau de escolarização resultaria em queda de até 5,4% da proporção de trabalhadores com ensino fundamental e médio tradicional, e esse retrato alteraria médias salariais do mercado de trabalho. Nas faixas de trabalhadores formados no fundamental ou médio tradicional, os salários poderiam crescer até 2,76%.

Por outro lado, os salários médios para formados no ensino técnico teriam recuo de até 14,34%. “É um desdobramento natural, de distribuição de renda”, diz Firpo.

Contudo, mesmo com o recuo de patamares salariais médios nas faixas de pessoas formadas no técnico e no superior, haveria melhoria de patamar de renda para a população que mudou o grau de escolaridade. É que, hoje, um trabalhador com ensino médio técnico ganha 32% a mais do que alguém que tenha o ensino médio tradicional. Já a diferença de “prêmio”

Fonte da Notícia: VALOR GLOBOQ

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