INEP pede que IES particulares ampliem ofertas de vagas em licenciaturas de áreas específicas

“O setor privado, que responde por mais de 75% da oferta de formação profissional, é responsável pelos resultados da educação básica”.

Com essa provocação, a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), Maria Inês Fini, deu o tom do seminário Responsabilidade Social e Inovação, realizado hoje (06) na sede da ABMES, em Brasília/DF.

A fala foi motivada pelo fato de o curso de Pedagogia estar entre os que possuem o maior número de alunos do país e seja disparado o principal curso de licenciatura. “Eu não tenho nada contra o curso de Pedagogia, sou pedagoga, inclusive. O problema é que o baixo desempenho dos nossos estudantes de educação básica não será superado se não tivermos nas salas de aula professores formados nas áreas que estão lecionando”.

Desafio da formação de professores
Maria Inês foi antecedida pelo diretor de estatísticas educacionais do Inep/MEC, Carlos Eduardo Moreno Sampaio, que apresentou uma série de dados relacionados ao universo da educação superior e também da educação básica. “Ao analisar os dados dos últimos anos do ensino fundamental, constatamos que entre os professores de língua portuguesa apenas 62,5% são licenciados nesta área. Entre os professores de geografia o cenário é ainda mais grave: praticamente 50% dos profissionais que estão nas salas de aula são graduados na disciplina”.

Diante desse contexto, o diretor chamou a atenção para a urgência e a oportunidade que pode ser aproveitada pelas instituições particulares de educação superior com relação à ampliação da oferta de vagas nas demais áreas da licenciatura. “Claro que precisa de política pública de estímulo à formação de professores”, completou.

Outro dado ressaltado pelo expositor foi o de que quase 190 mil professores da educação básica conciliam o trabalho com uma graduação. Desse universo, 39,1% cursam pedagogia.

Inovação e PNE
Ao fazer um chamamento à ação, os expositores do seminário destacaram a responsabilidade social das instituições particulares de educação superior ao mesmo tempo em que ressaltaram a possibilidade de inovação presente neste espaço. “O ensino superior privado tem respondido por grande parcela de formação dos nossos futuros profissionais. As matrículas representam uma responsabilidade social inegável para o desenvolvimento social deste país”, analisou Maria Inês.

Já a relação direta entre a formação de professores e o atingimento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) foi traçada pelo diretor de estatísticas do Inep. Segundo Carlos Eduardo, “nesse contexto, é praticamente impossível atingir as metas do PNE por conta dos problemas estruturais que temos na educação brasileira”.

Estatísticas e políticas públicas
Para além do fato de que a Constituição Federal estabeleça a educação como direito, ela também consiste em um instrumento essencial para o desenvolvimento socioeconômico do país. Nesse contexto, as políticas públicas para a área precisam ser bem estruturadas e atender aos desafios e necessidades do setor.

E foi na busca por identificar gargalos na área que o Inep chegou à provocação feita durante o seminário da ABMES. Para a instituição, o baixo desempenho dos estudantes na educação básica está relacionado com a ausência de professores capacitados, assim como a ausência de professores capacitados está relacionado com o baixo desempenho dos estudantes ainda na etapa da educação fundamental. Trata-se de um ciclo que se retroalimenta.

Um dos dados que exemplificam esse cenário é a comparação entre os números de ingressantes e concluintes entre os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Brasil. Enquanto nos países que fazem parte do organismo internacional a média entre o número de ingressantes e o de concluintes tende a se manter, no Brasil o percentual dos que encerram a graduação chega a ser um terço daqueles que iniciaram.

“Temos um sistema muito improdutivo na sua capacidade de produzir concluintes. Na rede privada, entre os que ingressaram em 2010, em 2016 o cenário era o seguinte: 59,9% tinham evadido, 36,3% concluíram e 3,7% ainda estudavam”, afirmou o diretor de estatísticas do Inep. De acordo com ele, esse panorama não é privilégio da rede pública ou da privada, mas do sistema educacional como um todo que falha na formação dos seus estudantes nas séries iniciais.

Generalismo x segmentação
Se por um lado a falta de conhecimento teórico e prático sobre o conteúdo que será transmitido para os estudantes consiste em um problema, por outro a segmentação extrema também não é solução. Quem fez o alerta foi a diretora de Avaliação da Educação Superior do Inep/MEC, Mariângela Abrão: “devemos ter muito cuidado com as formações extremamente segmentadas da mesma maneira que temos que ter cuidado com as formações extremamente generalistas”.

Ao fazer essas análises, e relacioná-las à responsabilidade social das instituições de educação superior e às possibilidades de inovação, os representantes do Inep ressaltaram que, para eles, está na hora de impactar os gestores públicos para que essa revolução aconteça. “Esse é o grande momento da virada. Temos uma BNCC [Base Nacional Comum Curricular] que já foi homologada e mostra minimamente o que crianças e jovens têm o direito de aprender em cada série escolar. A formação de professores precisa contemplar isso. O professor precisa ser instrumentalizado do que ele vai ensinar. O pedagogo não sabe ensinar a lógica das quatro operações matemáticas, por exemplo”, concluiu a presidente Maria Inês Fini.

Israel Experience
Durante o seminário o diretor presidente da ABMES, Janguiê Diniz, fez um breve relato sobre a 2ª Delegação ABMES Internacional – Israel Experience, ocorrida de 11 a 21 de outubro. Ao longo de dez dias, 40 pessoas de 17 entidades educacionais do Brasil visitaram as principais universidades israelenses, marcadas pela inovação em suas mais diversas concepções.

Diniz ressaltou a capacidade do país de transformar uma área desértica em um oásis de desenvolvimento, conhecimento e inovação. “Saber como eles conseguiram isso em tão pouco tempo de existência foi um dos motivos que nos levou até lá. Voltamos com todas as respostas? Claro que não. No entanto, regressamos com a certeza de que a relevância da educação para todos ali é, sem dúvida, um dos principais motores do progresso vivenciado por aquela nação”.

Coordenado pelo diretor presidente da ABMES, o seminário contou ainda com a participação do diretor de gabinete da Secretaria Executiva do Ministério da Educação, Rubens Martins, e da vice-presidente da Associação Débora Guerra.

 

Fonte: Fundacred 07/11/2018

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