O Brasil poderá ter, em 2021, queda exponencial no número de novas matrículas no ensino superior, numa situação inversa àquela dos últimos tempos e provocada, ironicamente, pela porta de entrada na graduação: o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Por causa do adiamento das provas, a liberação do resultado, prevista para março do próximo ano, compromete o ingresso de 76% dos alunos, segundo pesquisa do setor privado. Esse é o percentual de futuros universitários que precisam do amparo do Programa Universidade para Todos (Prouni), Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) ou de bolsas e financiamentos adotados pelas próprias faculdades, todos vinculados à nota do Enem, para dar prosseguimento ao sonho do ensino superior.
Para driblar o baque que esse cenário causaria no setor privado, instituições pressionam o Congresso Nacional para desvincular os programas do resultado do exame. A estimativa é de que pelo menos 3,5 milhões de um total de 5,8 milhões de inscritos devam buscar vaga nos cursos das instituições privadas de ensino superior e eles vão depender da divulgação do resultado do Enem para cursar a graduação.
O Censo da Educação Superior mostra que 80% das matrículas da graduação no país estão nas instituições particulares, já que o ensino público não comporta a demanda. O Sistema de Seleção Unificada (Sisu) oferece atualmente cerca de 237 mil vagas nas instituições públicas brasileiras.
Em Minas, segundo estado com o maior número de inscritos para o Enem (577.227), aproximadamente 346 mil estudantes devem pleitear uma cadeira em universidades particulares. Os dados fazem parte da quarta fase do estudo “Coronavírus e ensino superior: o que os alunos pensam”, elaborado pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insights e divulgado ontem em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
A pesquisa mostra que para 76% dos entrevistados o principal motivo para fazer o Enem este ano é conseguir o melhor desconto possível ou bolsa de estudo. A aplicação das avaliações foram adiadas de 22 e 29 de novembro para 17 e 24 de janeiro de 2021, com anúncio das notas finais marcado para 29 de março. Só então poderão ser abertos os prazos para os processos de seleção dos programas de acesso, bolsas e financiamentos, o que pode comprometer toda a programação acadêmica do primeiro semestre.
Apagão
Não só os alunos, mas também universidades, faculdades e centros universitários privados, que em Minas somam mais de 300, ficam na corda bamba. Em média, 64% do total de matrículas no primeiro semestre ocorrem entre a divulgação dos resultados e o início do ano letivo e 80% dos estudantes efetivam a matrícula depois de conhecer a nota obtida, segundo o levantamento.
A complexa situação começou com a Medida Provisória 934, transformada em Projeto de Lei de Conversão (PLV) 22/2020, que vincula o calendário de divulgação da nota do Enem ao Prouni. O texto foi aprovado no Senado no fim da semana passada e encaminhado para sanção presidencial. A expectativa das mantenedoras é de que o presidente Jair Bolsonaro vete essa parte do texto, fazendo valer a lei do Prouni, que usa obrigatoriamente a nota do Enem, mas permite que os processos seletivos ao programa sejam feitos pelas próprias instituições, com edital publicado e conduzido pelo Ministério da Educação (MEC). “Esse condicionamento era natural, porque, antes da COVID-19, a nota era disponível a tempo”, afirma o diretor-presidente da ABMES, Celso Niskier.
Ele ressalta que um ano de captação de alunos representa hoje 25% de toda a base de estudantes. “Se tivermos ingresso mínimo ou nulo durante dois semestres, estimamos que a base total pode cair 20%”, afirma o presidente da ABMES, Celso Niskier. “Para a saúde financeira das instituições será dramático, com possibilidade de redução de pessoal, de docentes e isso é sempre lamentável. Para o país, representa um sério apagão de mão de obra em setores estratégicos do país”, completa.
A prova de fogo já começou, com cenário incerto de matrículas já para este segundo semestre. O levantamento da Educa Insights mostra que 70% do volume de alunos que ainda podem se matricular só tomarão a decisão nos próximos 30 dias. Para as instituições particulares de ensino superior, mudanças no calendário letivo só serão consideradas se perderem a batalha no Congresso e for preciso pôr em prática um plano de emergência. “As instituições terão de se adequar e conseguir mecanismos que garantam antecipar essa decisão dos alunos e, consequentemente, a matrícula, sem a necessidade de mudança de calendário acadêmico”, acrescenta o fundador e diretor da Educa Insights, Daniel Infante.
Só 14% devem iniciar graduação neste ano
O estudo “Coronavírus e ensino superior: o que os alunos pensam”, elaborado pela Educa Insights e divulgado ontem em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), ouviu pessoas que planejam iniciar um curso superior, presencial ou a distância, nos próximos 12 meses. Preocupados com os impactos da COVID-19 no atual momento do país, apenas 14% dos entrevistados declararam planejar o início do curso de graduação neste segundo semestre. Significa queda de 8 pontos percentuais em relação à primeira apuração da pesquisa, em março.
Esse público adiou os planos, em grande parte, para o início de 2021. Eram 30%, no início da pandemia, e se tornaram 39% na pesquisa de julho. Entre os interessados em se matricular agora nos cursos na modalidade a distância, houve um aumento de 30% (registrados na terceira fase da pesquisa) para 34%. Os cursos presenciais tiveram movimento contrário e mais acentuado: se em março a intenção de começar em agosto era de 16%; em julho, só 5% confirmaram que pretendem se matricular. Para essa modalidade de ensino, 45% deixarão para decidir só depois do fim da pandemia.
A preocupação com os impactos financeiros e com as ameaças à saúde provocados pela pandemia do novo coronavírus é a principal razão para deixar para depois a formação superior. Não ter condições para pagar as mensalidades é o receio de 36% das pessoas ouvidas, a garantia da segurança sanitária foi apontada por 35% e 29% responderam que os dois motivos são temidos.
Na corrida para não perder alunos, as instituições particulares têm feito movimento contrário. Elas vão até os alunos para negociar. De acordo com o estudo, em julho, ao menos 71% delas procuraram os estudantes para fazer a rematrícula e 53% ofereceram condições diferenciadas para ajudar no pagamento das mensalidades. Em 47% dos casos, foi concedido desconto por até três meses; 15% receberam redução dos valores por até seis meses e 9% por mais de seis meses.
Emergência
Ainda tentando conter os efeitos da pandemia, tramita no Senado o Projeto de Lei 3.372/2020, conhecido como Fies Emergencial, que amplia a cobertura do Fundo de Financiamento Estudantil para os estudantes matriculados que tiveram a renda pessoal ou familiar reduzida durante a crise provocada pela COVID-19 e estejam com dificuldades no pagamento das mensalidades. A proposta inclui a autorização para que a União participe com até R$ 3 bilhões em fundo privado criado para garantir o crédito da política pública.
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.
Fonte: ABMES