Modelos ágeis de gestão no contexto das IES

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCarioca

17/03/2025 09:00:00

Criado originalmente para auxiliar no desenvolvimento de softwares e projetos, nos últimos anos o modelo ágil de gestão passou a ser um recurso bastante implementado por empresas dos mais diversos setores. A explicação para essa dinâmica é simples: com a velocidade das transformações tecnológicas e a crescente necessidade de adaptação, a adoção de práticas ágeis tornou-se crucial para organizações que desejam manter sua competitividade.

Um aspecto relevante consiste no fato de que seu conceito de agilidade vai além de processos e ferramentas. Ele inclui uma mudança de mentalidade, onde a colaboração, a adaptação e a entrega de valor são princípios fundamentais. Para isso, ao contrário dos modelos tradicionais, que tendem a seguir uma abordagem mais rígida e linear, os modelos ágeis promovem uma gestão mais flexível, capaz de lidar com incertezas e mudanças rápidas, características comuns no atual ambiente de negócios.

No contexto das instituições de educação superior (IES), a adoção de modelos ágeis de gestão tem sido uma estratégia cada vez mais relevante para lidar com os desafios do setor, como a necessidade de inovação constante, a adaptação às demandas dos alunos e as mudanças rápidas nas tecnologias educacionais. Outro fator positivo é que as práticas ágeis podem ser adaptadas tanto para o contexto acadêmico quanto para o administrativo.

Na esfera acadêmica, práticas como os sprints (ciclos curtos de trabalho) podem ser aplicadas no planejamento de disciplinas, cursos e programas de pós-graduação, permitindo que conteúdos e metodologias sejam ajustados de acordo com o retorno de estudantes e docentes. Já no âmbito administrativo, o modelo ágil pode otimizar processos internos como matrícula, comunicação com alunos, avaliação de desempenho de funcionários e a gestão de recursos financeiros e materiais.

Dito isso, deixo aqui a sugestão para que as instituições educacionais acompanhem essa evolução e capacitem seus dirigentes (inclusive, fiquem atentas às ofertas da ABMES Cursos). Só para dar uma ideia do volume de gestores acadêmicos que isso representa, o Brasil conta com cerca de 45 mil cursos de graduação,  cada um com o seu coordenador. A formação e o desenvolvimento em metodologias ágeis contribuirão tanto para o aprimoramento das habilidades gerenciais quanto para o aperfeiçoamento das práticas acadêmicas desses profissionais.

A concretização do modelo ágil, contudo, somente acontecerá se houver uma mudança na cultura organizacional. Docentes, funcionários administrativos e gestores precisam ser capacitados para essa nova realidade. Isso envolve treinamento em técnicas como Scrum, Kanban e Lean, mas também em habilidades de colaboração e gestão de mudanças. E não é algo que se faça uma única vez. A capacitação e o desenvolvimento das equipes devem ser processos contínuos.

Como nada é tão simples, a adoção do modelo ágil não é isenta de desafios. A resistência cultural à mudança, a falta de compreensão das práticas e a dificuldade de adaptação às novas dinâmicas de trabalho podem ser obstáculos a serem superados. Assim, para que a transição ocorra de forma suave, é essencial que a alta liderança esteja comprometida, que a implementação seja gradual e que haja apoio aos colaboradores ao longo de todo o processo.

Em um momento no qual as IES precisam se reinventar, a eficiência na gestão pode ser o diferencial que vai separar as bem-sucedidas daquelas que sucumbirão aos desafios. Sejam instituições filantrópicas, sejam instituições empresariais, todas precisam tratar a gestão de forma mais científica. E, nesse aspecto, a metodologia ágil tem se mostrado uma relevante aliada de quem quer inovar, criar projetos fora da caixa e responder rapidamente às demandas do mercado.

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