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Da alfabetização à educação superior: saltos que o Brasil precisa dar

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCariocaoca

27/05/2024 06:00:01

Desde que começaram a ser divulgados, os resultados do Censo 2022 têm nos apresentado a radiografia atualizada do Brasil. Nos últimos dias, fomos contemplados com a boa notícia de que a taxa de analfabetismo entre a população de 15 anos ou mais segue caindo, atingindo a marca de 7%, ante os 9,6% verificados no levantamento anterior (2010).

Contudo, apesar do avanço, o país segue com um contingente significativo de pessoas que ainda não sabem ler e escrever. São 11,4 milhões de indivíduos que se encontram à margem da sociedade, tendo negligenciados seu direito fundamental à educação e à cidadania plena.

O que não surpreende é que, como sempre, os índices são mais expressivos entre as parcelas da população tradicionalmente negligenciadas. Entre os indígenas, a taxa de analfabetismo é de 15,1%, ou seja, mais que o dobro da média nacional. Este cenário se repete entre pretos e pardos, que registram proporções significativamente superiores às verificadas entre a população branca: 10,1%, 8,8% e 4,3%, respectivamente.

Na esfera individual, o analfabetismo traz prejuízos imensos que vão desde a dificuldade em conseguir um emprego até a pouca – ou nenhuma – compreensão de símbolos utilizados pela sociedade em situações do dia a dia, como pegar um transporte público, se localizar em determinado local e ter a segurança de que uma informação recebida está correta.

No campo coletivo, ter um quantitativo superior ao da população de Portugal formado por pessoas que não têm domínio da escrita e da leitura em nada contribui para o progresso e o desenvolvimento sustentável da nação. Vivemos tempos nos quais novas literacias têm sido demandadas para que possamos compreender e atender às expectativas de um mundo em constante evolução e transformação. Dominar os vocábulos da língua materna e suas significações deixou, há tempos, de ser um diferencial competitivo. Seja qual for a perspectiva.

A boa notícia é que há luz no horizonte. Além da queda na taxa em si, um recorte positivo é o que mostra que, em 2022, apenas 1,5% da população com idades entre 15 e 19 anos era analfabeta. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse quadro indica que as gerações mais novas estão tendo maior acesso à educação.

Há tempos o Brasil repete o mantra de que “só a educação é capaz de transformar o país”, embora pouco seja feito, efetivamente, para que ela seja prioridade nacional. Os dados do Censo 2022 mostram que temos avançado nesse campo, mas não na velocidade necessária. A alfabetização é princípio básico fundamental para qualquer ser humano, e negligenciá-lo é uma perversidade. Mas é preciso ir muito além.

O sucesso educacional de uma população não tem como única medida seus índices de alfabetização, mas a garantia de continuidade dos estudos, permitindo acesso ao conhecimento até os mais elevados níveis educacionais. Em relação a este ponto, nosso dever de casa está ainda mais atrasado. A hora é de acelerar e correr atrás do prejuízo.

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