Celso Niskier
Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCariocaoca
A revolução da inteligência artificial (IA) já está redefinindo a educação superior, exigindo uma reformulação urgente das práticas pedagógicas e das diretrizes curriculares. A pesquisa “Inteligência Artificial na Educação Superior”, realizada recentemente pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) em parceria com a Educa Insights, revela uma ampla aceitação dessas ferramentas entre os atuais e futuros estudantes, sinalizando a urgência sobre o tema.
De acordo com o levantamento, 74% dos entrevistados consideram o investimento em IA importante ou muito importante para as instituições de ensino superior (IES). Um dado
significativo, pois demonstra uma consciência crescente de que se trata de um diferencial no processo de ensino e aprendizagem.
Com 80% dos estudantes afirmando conhecer ferramentas como chatGPT e Gemini, e 71% utilizando-as regularmente, as IES precisam adaptar-se rapidamente para integrar essas tecnologias em seus currículos. A velocidade com que as tecnologias se disseminaram chama a atenção: em apenas um ano, o conhecimento sobre IA entre universitários cresceu 11%, e o uso regular, 18%. Isso sugere que, mesmo com diretrizes curriculares defasadas, a incorporação da IA é uma realidade inegável nas universidades.
Entretanto, a introdução da IA na educação superior não está isenta de desafios. A falta de interação humana é uma preocupação para 52% dos estudantes, enquanto 49% apontam para uma dependência excessiva de tecnologias passíveis de falhas e desatualizações. Esses são alertas importantes para as IES: é necessário investir em tecnologia, mas sem perder de vista o valor das relações humanas e da constante atualização tecnológica.
A pesquisa também traz um dado provocador: 84% dos entrevistados acreditam que a IA substituirá parcialmente (62%) ou totalmente (22%) os professores no futuro. Embora a tecnologia possa, de fato, auxiliar na preparação de aulas e na correção de avaliações, o papel do professor vai além dessas funções. A figura do educador como mediador do conhecimento, facilitador do aprendizado e mentor dos estudantes é insubstituível.
Está claro que não se trata do uso de ferramentas tecnológicas, mas de repensar modelos de gestão e concepção pedagógica que aproveitem o melhor que a tecnologia tem a oferecer. Um passo importante já foi dado. Recentemente foi criada, no Conselho Nacional de Educação (CNE), a Comissão de Estudos para Definição de Diretrizes para Utilização da IA na Educação Superior, a partir da indicação de minha autoria e da qual serei relator, que vai se debruçando sobre essas questões, preparando orientações para guiar as escolas e universidades nessa nova era.
A adoção estratégica da IA é imperativa. As IES que conseguirem alinhar suas práticas pedagógicas às inovações tecnológicas estarão na vanguarda de uma educação mais inclusiva e eficaz, enquanto aquelas que resistirem a essa transformação correm o risco de ficar para trás.