Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro
Com quantas mulheres se constrói uma nação? No Brasil, são mais de 109 milhões que dão suas cotas de suor e determinação para fazer deste um país mais justo e melhor de se viver. Este texto poderia ser sobre a importância de todas essas mulheres, mas hoje quero falar sobre uma especificamente: Luiza Helena Trajano, que nos deu a honra de participar do talk show de encerramento do 13º Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (CBESP) e deu uma verdadeira aula de simplicidade, conhecimento da realidade e resiliência.
Presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, ela é conhecida e reconhecida por ter sido a responsável pelo salto de inovação e crescimento que colocou o Magazine Luiza entre os maiores varejistas do país. Mas, sua importância extrapola em muito os limites alcançados pela rede que conta com 1.100 lojas, mais de 47.000 colaboradores e uma forte presença digital. Hoje, Luiza Trajano é referência nacional de empreendedorismo, de empatia e de responsabilidade social.
Com uma percepção de empreendedorismo que vai além da abertura de um negócio, Luiza nos contou que nasceu em um “berço empreendedor” dentro do que ela considera ser empreendedorismo: a busca por soluções. “Na minha casa, se eu chegava com um problema da escola, ninguém passava a mão na minha cabeça, me perguntavam o que eu poderia fazer para resolver aquela situação”.
O resultado é que além de buscar soluções para a sua empresa, Luiza hoje está engajada na busca de soluções para diversos problemas sociais do país, como a mobilização pela vacinação da população contra a Covid-19, o racismo estrutural e as desigualdades de gênero.
Aliás, sobre este último ponto, durante a conversa com o vice-presidente da ABMES, Daniel Castanho, no CBESP, Luiza brincou dizendo que “chegou a nossa vez, acho que daqui a alguns dias vai ter que ter cota para homens”. A brincadeira foi motivada por uma fala do Daniel sobre a mudança de paradigmas na gestão empresarial, onde as características femininas, como olhar no olho e ter uma visão holística, transcendem a própria empresa.
Para Luiza, a explicação está no fato de termos saído de uma gestão mecânica e migrado para uma gestão orgânica, onde o que está em voga são a sensibilidade, a empatia e o poder de educar. Ela fez questão de ressaltar, contudo, que isso não significa que essa nova gestão não possa ser exercida por homens, embora seja mais aderente ao perfil feminino – ou ao lado feminino existente em cada indivíduo, independentemente de gênero.
Questionada sobre quais seriam as habilidades desenvolvidas pelos estudantes em uma eventual “Universidade Luiza Helena Trajano”, a convidada foi enfática: “o aluno iria sair fazendo, não seria uma pessoa que viveria no mundo das ideias, proposições e diagnósticos. Também iria aumentar seu nível de consciência sobre seu papel enquanto indivíduo que vive em rede e consciência sobre ser o protagonista da sua própria vida. Por fim, aprender a viver intensamente”.
Bingo! Aí está uma boa síntese do que costumamos apresentar como as competências para este século 21 e que precisam ser trabalhadas pelas instituições de educação superior. Luiza, empreendedora e visionária que está do outro lado do balcão (recebendo os profissionais formados por nós), deu o recado com todas as letras: a educação empreendedora (no sentido de estimular e apontar caminhos para a busca de soluções) e o desenvolvimento das soft skills devem ser o propósito da educação superior. “As empresas estão descobrindo que contratam pela capacidade técnica, mas mandam embora por comportamento”, pontuou.
Luiza Trajano é uma voz necessária e, não à toa, tem ganhado cada vez mais força. Tê-la no encerramento do CBESP de 2021 foi um privilégio e um alento em tempos difíceis. Sua simplicidade e lucidez reforçaram em nós a crença no futuro do Brasil e no valor da educação.
Como ela evidenciou, mais do que nunca, precisamos buscar soluções, e inovar deve ser a palavra de ordem. “Ou a gente inova ou não sobrevive. Não é mais opção. A inovação só tem começo, não tem fim”. Então, que comecemos a construir essa nova educação superior mais inovadora, empreendedora e aderente às necessidades destes tempos.