Em uma sociedade cada vez mais múltipla e conectada, será que existe uma única forma correta e eficiente de transmitir conteúdo? Há séculos, quando o modelo educacional ainda predominante foi desenvolvido, havia o entendimento de que professores ensinavam, alunos aprendiam. Nessa hierarquia, nessa lógica.
A partir dessa compreensão foram criadas as salas de aula tradicionais, com lousas (recentemente substituídas pelos quadros brancos), carteiras enfileiradas e docentes dotados de giz e voz. Nas últimas décadas, contudo, o surgimento e a disseminação de novas tecnologias da informação e comunicação impuseram à sociedade contemporânea novas formas de se comportar, se relacionar e também de aprender.
Com a informação ao alcance de um clique, a interação entre quem ensina e quem aprende tem sido cada vez mais horizontalizada. Novas metodologias, como a sala de aula invertida, foram desenvolvidas para atender à demanda crescente por autonomia e responsabilização no processo individual de aprendizado.
Nesse contexto também ganhou força a educação a distância, que nos dias atuais nada mais é do que ensino mediado pela tecnologia. Aquele velho modelo de apostilas e avaliações que trafegavam via correios há muito foi substituído por sistemas modernos, dinâmicos, atraentes e capazes de promover efetiva comunicação entre estudantes e professores, e também entre pares.
Além de fácil operacionalização, os ambientes virtuais de aprendizagem disponíveis no mercado estão cada vez mais preparados para dialogar com tecnologias disruptivas que surgem a cada dia, como realidade virtual, realidade aumentada, gamificação, mobile learning, social learning, machine learning, chatbot e learning analytics.
Tratam-se de inovações que impactam na leitura de mundo e também na forma como o ser humano se relaciona com o processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido, elas devem ser vistas e utilizadas, inclusive, como instrumentos estratégicos para a efetivação de alguns princípios educacionais que norteiam a pedagogia moderna.
Por exemplo, se todo aluno é único em seu potencial de aprender, a utilização dos algoritmos gerados pelo machine learning e pelo learning analytics ofertam caminhos personalizados de aprendizagem. Já para o entendimento de que a absorção de conhecimento deve ocorrer em ambientes que sejam ricos, motivadores e desafiadores, quais ferramentas podem ser melhores do que a realidade virtual, a realidade aumentada, o social learning, o mobile learning e a gamificação?
É verdade que boa parte dessas tecnologias podem ser empregadas nas salas de aula convencionais, inclusive sua utilização tem se tornado cada dia mais imperativa. Contudo, é no ambiente virtual onde todas as suas potencialidades podem ser exploradas.
Tendo em vista que a educação a distância é algo consolidado, há que se estar atento para a integração cada vez maior entre esta modalidade de ensino e as tecnologias que surgem a cada dia. Os benefícios dessa conexão são diversos e impactam toda a comunidade acadêmica. Alunos se atraem mais por ambientes flexíveis e personalizados; professores terão o apoio de ferramentas inteligentes para a identificação da melhor estratégia de transmissão de conteúdo; gestores precisarão fazer investimentos crescentes para acompanhar o ritmo da inovação; e gestores públicos precisarão rever o excesso de regulamentação, abrindo espaços para que as escolas inovem e redefinam o seu papel.
Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) constatou que em 2023 as novas matrículas na modalidade a distância irão superar aquelas na modalidade presencial na educação superior. Portanto, o debate sobre a viabilidade e a eficiência da educação a distância é algo que precisa ser superado. O momento pede que olhemos para o futuro, e o que está no horizonte é um processo educacional cada vez mais integrado às demandas e necessidades do século 21.
*Celso Niskier, reitor do Centro Universitário UniCarioca e diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)
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