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Educação continuada digital crescerá 16% ao ano até 2030

A sociedade contemporânea se caracteriza pela busca incessante de conhecimento e a educação continuada ou lifelong learning – aprendizagem ao longo da vida – adquiriu grande importância. O conceito tem suas origens na Unesco, em meio à Segunda Guerra Mundial, quando a educação foi reconhecida como um direito universal. O fenômeno da expansão da educação continuada é mundial, impulsionada pelas novas tecnologias, e incorre no surgimento de organizações públicas e privadas empenhadas em contribuir na tarefa de levar conhecimento a todos que desejarem.

Quem resgata parte dessa história e traz o alcance da educação continuada na América Latina é Jorge Blando Martínez, presidente da Rede de Educação Continuada para a América Latina e Europa (RECLA) e vice-reitor de educação continuada do Tecnológico de Monterrey, instituição que tem 150 mil estudantes – os “learners & game changers”, como a instituição os denomina – matriculados em seus cursos de educação continuada. Ele também opina sobre a participação do Brasil nesse setor pleno de possibilidades.

Como você define o conceito de educação continuada?

No Tecnológico de Monterrey, vemos a educação continuada como um dos quatro processos valiosos para cumprir nosso propósito de educação que transforma vidas. São eles: educação secundária superior, educação superior, estudos de pós-graduação e educação continuada. Por esta última, entendemos todos os programas, cursos, seminários, workshops, diplomas, certificados e certificações que nossa instituição emite por meio da educação não formal, ou seja, sem créditos acadêmicos e com o apoio e a validade concedidos pela própria instituição.

Que aspectos favoreceram a importância e a relevância da educação continuada nos últimos anos?

O conceito de Aprendizagem ao Longo da Vida tem suas origens na Unesco, em meio à Segunda Guerra Mundial, quando a educação foi destacada como um direito humano universal e presente para toda a vida. Na era pós-guerra, o conceito de aprendizagem ao longo da vida foi trazido à tona no relatório Faure de 1972, que buscava abrir e estender o alcance da educação a todos os cidadãos dentro e fora da escola. Em 2006, a Unesco criou o Instituto de Aprendizagem ao Longo da Vida.

De acordo com o Observatório do Instituto para o Futuro da Educação do Tecnológico de Monterrey, a aprendizagem ao longo da vida é um processo sociocultural que engloba todo o aprendizado, as habilidades e as competências que uma pessoa adquire desde a infância até a velhice, em diferentes contextos (família, escolas, instituições de treinamento vocacional, universidades, locais de trabalho, comunidade etc.), em diferentes ambientes (formal, não formal e informal) e para diferentes finalidades (pessoal, cívica, social ou relacionada ao trabalho).

Em um mundo em rápida mudança, as pessoas precisam incorporar novos conhecimentos e desenvolver novas habilidades e atitudes para permanecerem relevantes e competitivas em ambientes profissionais. Ao mesmo tempo, à medida que nossas vidas se desenvolvem, precisamos de novas distinções em cada estágio que nos permitam viver mais plenamente, de modo que o aprendizado ao longo da vida se torna fundamental para todo ser humano.

Como as instituições de ensino superior da América Latina estão respondendo a essa tendência?

Na América Latina, temos uma rede de instituições que realizam educação continuada conhecida como RECLA (Rede de Educação Continuada para a América Latina e Europa), que existe há 26 anos e atualmente reúne 149 instituições parceiras que promovem a qualidade, a excelência e a profissionalização da educação continuada em nossos países.

Observamos que, após a pandemia, aumentou o interesse das instituições de ensino superior em ampliar seu escopo na educação continuada; por exemplo, somente em 2023, o número de membros dessa rede aumentou em 26%. Isso demonstra o interesse que o assunto está despertando.

No que diz respeito à educação continuada no Tecnológico de Monterrey, nos últimos dois anos, crescemos a uma taxa anual de 18%. De acordo com nossos estudos, a educação continuada digital crescerá a uma taxa anual de 16% até 2030. Portanto, há grandes expectativas de gerar maior impacto em nossa região.

Em quais áreas do conhecimento há maior crescimento dos cursos de educação continuada e como você vê esse crescimento no futuro? Ele abrangerá todas as áreas do conhecimento?

De acordo com o que temos observado, há um crescimento importante em “habilidades digitais”, as pessoas estão percebendo que precisam investir tempo em sua formação profissional para participar das grandes transformações digitais que estamos vivendo. Refiro-me ao uso de inteligência artificial, ciência de dados, cibersegurança, computação em nuvem, desenvolvimento web, entre outros. Além disso, as habilidades sociais, a diversidade, a inclusão e a sustentabilidade, bem como aquelas que impulsionam a excelência operacional, estão crescendo.

Uma pesquisa recente realizada pelo Semesp mostra que há um grande interesse dos estudantes brasileiros pela educação continuada. Por exemplo, 95,6% dos que fazem um curso de especialização dizem que poderiam seguir para outras especializações. Como você vê o crescimento da educação continuada no Brasil?

Embora a RECLA seja uma rede latino-americana, temos poucas instituições brasileiras. Na minha opinião, as instituições brasileiras têm uma grande oportunidade de fazer mais parcerias com instituições da região, superando as barreiras naturais do idioma. Na medida em que isso for feito, a América Latina se fortalecerá, pois poderá haver crescimento e aprendizado entre os países. À distância, observo que o Brasil fez um ótimo trabalho ao promover programas de especialização longos; no entanto, a tendência global é oferecer programas mais curtos que desenvolvam competências profissionais relevantes para os setores de forma mais ágil e promover o aprendizado contínuo. Assim como a necessidade de internacionalizar ainda mais sua educação continuada. Nesse sentido, a RECLA pode ser uma grande aliada para as instituições de ensino superior brasileiras.

Com 150 mil alunos, a educação continuada no Tecnológico Monterrey é um sucesso. Quantos cursos de educação continuada são oferecidos?

Os mais de 150 mil “learners & game changers”, como gostamos de chamá-los aqui no Tec, são principalmente profissionais e graduados que participam de programas de curta duração para se manterem atualizados ou que buscam desenvolver novas competências, o famoso “upskilling & reskilling”. Achamos que ainda temos muito potencial de impacto e acreditamos que nos próximos anos estaremos dobrando o número de pessoas que procuram a instituição para continuar se preparando ao longo de suas vidas.

No ano passado, atendemos mais de 550 organizações em todo o mundo com soluções impactantes de aprendizado na empresa, com mais de 1.100 programas de educação continuada feitos sob medida. Além disso, temos um portfólio de mais de 250 programas abertos ao público que são agendados mais de duas vezes por ano. É assim que impactamos tantas pessoas com uma taxa de recomendação NPS de 88, que é muito alta.

Como vice-reitor desse setor na universidade nos últimos seis anos, você pode nos contar sobre as estratégias do Tecnológico Monterrey que impulsionaram esses números na educação continuada? Quanto foi investido nos últimos anos para oferecer essas vagas?

Na Vice-Reitoria, nos últimos cinco anos, promovemos a transformação digital de nossa educação continuada criando o ecossistema de aprendizagem conhecido como “The learning gate”, por meio do qual as pessoas podem desenvolver competências profissionais a partir de rotas compostas por pequenos blocos de aprendizagem aplicada e com base em nosso modelo educacional andragógico INSPIRA.

Também aumentamos nossa participação geográfica internacional nas Américas Central e do Sul, bem como no estado do Texas, nos Estados Unidos, por meio de parcerias com instituições que compartilham nossos valores. Nós nos concentramos em gerar o maior impacto para os públicos que atendemos e em garantir a mais alta qualidade e relevância de nossos programas, passando de um Net Promoter Score de 68 para 88 em cinco anos. Cultivamos a qualidade dos programas, fornecendo às organizações os melhores especialistas da área e desenvolvendo-os continuamente para que se adaptassem às novas circunstâncias do mundo atual.

Da mesma forma, em colaboração com o departamento de educação digital e inovação educacional, promovemos a experimentação e a aplicação de novas tecnologias que nos permitem expandir o impacto de nossa instituição: blockchain, realidade virtual, metaverso e inteligência artificial.

Que porcentagem do faturamento do Tecnológico Monterrey corresponde à educação continuada?

A atividade de educação continuada representa hoje 8% de nossa atividade na Reitoria Profissional e de Pós-Graduação.

Como a educação continuada e o uso de novas tecnologias se cruzam?

Em primeiro lugar, o componente presencial e digital mudou como resultado da pandemia. Anteriormente, 95% das atividades de educação continuada eram presenciais. Em 2023, 75% da educação continuada da Tec é digital e 25% é presencial. Além disso, aproveitamos as vantagens das novas tecnologias para aprender como elas podem aprimorar o aprendizado. No ano passado, tivemos algumas atividades de rede e aulas usando o metaverso. Descobrimos que, para determinados perfis, esse ambiente permite que eles se comuniquem de uma maneira diferente e se integrem a outros perfis semelhantes.

Da mesma forma, atualmente estamos incorporando a inteligência artificial para desenvolver conteúdo de forma mais ágil, para gerenciar o conhecimento que estamos capturando a partir das necessidades das organizações, para identificar a lacuna de habilidades das pessoas para alcançar um cargo específico e também para prever e personalizar o aprendizado em nossa plataforma, apenas para mencionar os mais relevantes. Hoje, estamos diante de uma oportunidade histórica de incorporar a inteligência artificial em nossos processos para gerar maior impacto.

No Tecnológico Monterrey, a educação continuada está crescendo tanto na modalidade presencial quanto a distância?

Sim, após uma queda temporária no primeiro ano da pandemia, os três anos seguintes foram de crescimento constante de dois dígitos; como mencionei anteriormente, nos últimos dois anos crescemos a uma taxa anual de 18% e prevemos que esse crescimento continuará até 2030, o que significa dobrar a atividade e o impacto a cada quatro anos.

Como você vê o futuro da educação continuada?

Será cada vez mais importante que os seres humanos desenvolvam a capacidade de aprender permanentemente, de sair de sua zona de conforto e de desenvolver seu potencial ao máximo. O mundo continuará mudando a uma velocidade vertiginosa e teremos de acompanhar a sociedade nesse desafio. Imagino as universidades acompanhando seus formandos ao longo de suas vidas, fomentando comunidades de aprendizagem nas quais eles, juntamente com os especialistas das instituições, promovem o desenvolvimento profissional e o florescimento humano. Isso requer uma abordagem diferente.

Precisamos nos afastar do paradigma de quatro anos de treinamento de graduação e mais alguns anos de estudos de pós-graduação para uma abordagem que acompanhe os formandos por 50 ou mais anos de suas vidas. E devemos estar abertos para receber outros grupos de pessoas que não tiveram a possibilidade de fazer um curso de graduação, mas que podem, por meio da educação continuada, adquirir competências úteis para se incorporarem melhor à sociedade do futuro. Assim, a aprendizagem ao longo da vida, a aprendizagem permanente e a educação continuada serão uma tendência relevante nas instituições de ensino superior. Eu vejo isso como “Tec for life”.

Fonte da Notícia: REVISTA ENSINO SUPERIOR

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