A evasão universitária e a qualidade insatisfatória dos cursos a distância são enormes preocupações para os gestores do sistema educacional brasileiro, nas palavras de Camilo Santana, ministro da Educação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Santana falou sobre o tema na mesa “Desafios do ensino superior após a pandemia”, que fez parte do XI Fórum Jurídico de Lisboa, evento que reuniu no fim de junho vários dos mais importantes nomes do Direito de Brasil e Portugal. O debate teve como mediadora a advogada Simone Horta, sócia do escritório Horta e Bachur Advogados e ex-diretora de Política Regulatória da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior e coordenadora-geral de Contencioso na Consultoria Jurídica do MEC.
“Dados do último censo da educação superior mostram que 61% dos alunos que ingressam em faculdades particulares abandonam os cursos. Nas públicas federais, 55% dos estudantes não terminam ou abandonam os cursos. Algo está errado”, disse o ministro, que questionou se as graduações oferecidas são atrativas para os jovens. “É um quadro que assusta e precisamos revertê-lo.”
Camilo Santana reconheceu que o Brasil não deve bater a meta de ter 50% dos jovens de 18 a 24 anos matriculados em faculdades até 2024, objetivo que está traçado no Plano Nacional de Educação. Atualmente, o percentual é de 39%. Uma alternativa para alcançar essa meta, segundo ele, é a interiorização das instituições de ensino.
Os resultados ruins dos cursos de licenciatura nos sistemas de avaliação chamaram a atenção do ministro. Dados do Enade mostram que nenhum curso do tipo alcança a nota 5 em uma escala que vai até 10. De acordo com Santana, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) pode ser uma alternativa para melhorar a formação de docentes.
Outra preocupação do ministro é a falta de qualidade dos cursos a distância. Durante o debate em Lisboa, ele disse que pretende fortalecer a Secretaria de Regulamentação do Ensino Superior para combater esse problema.
Estímulos financeiros
Secretária de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC, Helena Sampaio endossou o discurso do ministro dizendo que os desafios para o ensino superior brasileiro “são imensos” e que a crise da Covid-19 só acentuou as tendências que já vinham sendo apresentadas.
“O que precisamos fazer é tornar o ensino superior mais atraente para os jovens, trazendo estímulos financeiros e outros, para que os estudantes possam não apenas chegar à educação superior, mas permanecer e concluir o curso.”
Manuel Palácios, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), alertou que a educação superior brasileira ainda é menos discutida do que deveria ser.
“Nós temos uma ineficiência do sistema de informações do ensino superior que alcança níveis impressionantes. Claro que as dimensões presentes nesse diagnóstico da razão da ineficiência são várias, mas digo, com uma certa segurança, que quem vai resolver esse problema são as instituições, e não quem gerencia o sistema. Não há solução centralizada e nem única para o problema da eficiência. As instituições precisam ser incentivadas a buscar o caminho da eficiência. Para isso, precisamos de políticas que fomentem essa eficiência.”
Já a presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Fernanda Pacobahyba defendeu as políticas de equidade no Fies. “É uma política estruturada que precisa ser fortalecida, energizada, estando alinhada ao atingimento dos objetivos fundamentais da nossa República, especialmente no combate à desigualdade social.”
O presidente da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Ivan Simonsen Leal, disse que, em linhas gerais, o ensino superior reflete uma cadeia de problemas que surge já na educação básica. Ele defendeu a ampliação dos cursos técnicos, por causa das características do país. “Nossos cursos são fracos, principalmente pelo perfil de pesquisa.”
André Lemos Jorge, integrante do Conselho Nacional de Educação e da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior, fez um alerta: as discussões sobre ensino a distância no Brasil estão baseadas em regras pré-pandêmicas, datadas de 2017. “É preciso definir os conceitos. O que é ensino híbrido? É ensino síncrono ou assíncrono?”, questionou. Além disso, ele defendeu uma maior fiscalização sobre polos de educação a distância.
Por fim, Raphael Callou, diretor e chefe de representação da Organização dos Estados Ibero-Americanos no Brasil, também afirmou que a Covid-19 potencializou dificuldades que já eram observadas antes das medidas de isolamento.
“Quando pautamos os desafios, devemos lembrar já de largada as desigualdades. Muitos jovens não têm acesso à internet, e, quando têm, não possuem espaços adequados para o estudo.”
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Fonte da Notícia: CONJUR