Celso Niskier
Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro
24/01/2022 06:00:01
O novo ano mal começou, mas é um tema antigo que tem movimentado a pauta da educação superior nas últimas semanas: o abandono dos cursos de graduação pelos estudantes. Segundo o Semesp, quase 3,5 milhões de estudantes largaram seus cursos em 2021 apenas nas instituições privadas, resultando em uma taxa de evasão de 36,6%, índice inferior apenas ao registrado em 2020 (37,2%).
A permanência dos estudantes no nível terciário da educação sempre foi um desafio, mas tornou-se um problema crônico nos últimos dois anos, quando a crise econômica potencializada pela pandemia uniu-se ao esvaziamento da principal política pública de financiamento estudantil do país e aos altos índices de desemprego.
O histórico quadro de desigualdade econômica sempre foi um desafio a ser superado por uma parcela significativa da população ávida por ingressar e concluir uma graduação. Por um período, o Fies foi uma ponte eficaz entre indivíduos com dificuldades financeiras e a educação superior. O enfraquecimento do programa de financiamento estudantil foi um duro golpe para quem precisa de auxílio para acessar um curso superior e/ou para se manter nele.
A reversão desse cenário só será possível com a retomada de um programa amplo de financiamento estudantil e com a recuperação do valor da educação para cada indivíduo e para a sociedade. Mas, até que isso aconteça, o setor particular de educação superior precisa seguir dando a sua contribuição.
O movimento #EuSouOFuturo, por exemplo, uma iniciativa da ABMES e da Futuria, empresa de educação do Santander Universidades, já mobilizou mais de 5.300 unidades educacionais de todo o país na busca por alternativas para viabilizar o acesso à educação superior. Apenas neste primeiro semestre de 2022, milhares de estudantes se inscreveram para ter acesso às condições especiais oferecidas por meio do projeto.
Embora uma atuação em conjunto tenha mais força, existem diversas ações que podem ser desenvolvidas individualmente pelas instituições de educação superior e que são capazes de incidir na evasão dos graduandos. Entrar em contato com os alunos que abandonaram seus cursos e convidá-los a retornar pode ser um bom ponto de partida. Claro que o convite precisa ser acompanhado de algum tipo de apoio, seja financeiro ou acadêmico, de forma que o aluno possa, inclusive, recuperar suas perdas de aprendizagem.
Outra medida consiste na adoção de modelos estatísticos preditivos capazes de antecipar os alunos com maior risco de evasão e criar réguas de retenção eficazes. Tanto a inteligência artificial quanto a análise estatística podem contribuir para um mapeamento claro dos sinais de que um determinado aluno vai evadir. Para isso, são considerados dados como frequência (presencial ou no AVA), inadimplência e resultados obtidos pelo estudante nas avaliações.
Não se trata de uma fórmula mágica, mas da combinação de indicadores financeiros, acadêmicos e socioeconômicos do estudante, inclusive anteriores ao ingresso na IES (ex: nota no Enem, tempo que demorou para efetuar a matrícula, distância entre a residência e a instituição). Assim, mesmo antes do início das aulas, é possível antever os alunos com maior possibilidade de evasão e trabalhar o acolhimento necessário para que eles consigam concluir suas graduações.
A evasão de mais de um terço dos graduandos não pode seguir sendo um problema secundário na educação superior. Garantir a permanência dos estudantes precisa ser alvo de políticas públicas robustas, assim como o acesso. Por ora, o setor particular tem se articulado para mitigar esse drama. Resta saber até quando teremos fôlego para seguirmos sozinhos nessa batalha
FONTE: ABMES