O redescobrimento pela educação

Celso Niskier

Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e  Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCarioca

31/10/2022 06:00:01

Entre o período das grandes navegações e os dias atuais, muita coisa aconteceu com Portugal. O país que foi potência marítima passou por algumas crises e chegou a ser considerado por alguns como uma “nação europeia de segunda categoria”. Contudo, nas últimas décadas Portugal conseguiu se reinventar e hoje está entre os países mais admirados e visitados do planeta. O segredo para a virada de chave? Inovar!

Com investimentos públicos massivos em políticas de incentivo à inovação, Portugal tem se consolidado como um polo de tecnologia. Lisboa já tem sido apontada como o novo Vale do Silício, sendo a terceira cidade mais inovadora do mundo, e Porto é o terceiro tech hub com crescimento mais rápido na Europa. O ecossistema empreendedor é um dos principais ativos do país e figura entre os melhores do continente europeu. Com isso, centros de empreendedorismo se multiplicaram nos últimos anos e várias redes de investidores têm surgido no país.

Tudo isso já seria mais do que suficiente para justificar a escolha do país para sediar a 4ª Delegação ABMES Internacional – Portugal Experience, realizada entre 25 de outubro e 05 de novembro, mas ainda tem muito mais. Para além dos laços históricos e do idioma que nos une, Brasil e Portugal têm longa tradição de trocas de conhecimento e de formação docente e discente na educação superior.

Segundo o último Censo da Educação Superior, em 2020 pouco mais de 600 estudantes portugueses estavam matriculados nas universidades brasileiras. Esse número coloca Portugal na 11ª posição entre os países com mais estudantes matriculados na graduação no Brasil, bem abaixo de outras nações que também falam o português, como Angola (1ª colocada com 1.587 alunos) e Guiné-Bissau (4ª posição com 1.043 matrículas).

No sentido oposto, nos últimos 5 anos cresceu 123% a procura de brasileiros por universidades em terras portuguesas. O Brasil é o terceiro país que mais envia jovens para as instituições lusitanas de educação superior. De acordo com a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) de Portugal, dos 69 mil estrangeiros matriculados no país no ano letivo 2021/22, encerrado em junho passado, 18.859 eram brasileiros.

Esse cenário mostra o grande potencial de parcerias para o aumento da internacionalização da educação superior entre os dois países, especialmente no impulsionamento do interesse dos jovens portugueses pelas instituições brasileiras. Assim como o idioma comum e a facilitação do acesso de brasileiros às instituições portuguesas têm estimulado o fluxo de ida, com a delegação da ABMES fomos em busca de construir pontes para fomentar o fluxo de vinda.

Um atlântico de distância é muito pouco para duas nações que têm tanto a contribuir uma com a outra. Um novo “descobrimento” está em curso, mas, desta vez, a descoberta é mútua e se dará pela educação. A aproximação entre as instituições de ensino superior do Brasil e de Portugal resultará em bons e inovadores frutos para ambos os lados. As conexões estão feitas; agora é acioná-las.