Celso Niskier
Celso Niskier, Vice-Presidente do SEMERJ e Diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES)Reitor do Centro Universitário UniCariocaoca
19/08/2024 08:06:14
Futuros e atuais estudantes da educação superior conhecem as ferramentas de inteligência artificial (80%) e fazem uso delas (71%) na sua rotina de estudos. Essas são duas importantes constatações da pesquisa Inteligência Artificial na Educação Superior, realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) em parceria com a empresa de levantamentos educacionais Educa Insights.
Esses dados mostram que, ainda que as práticas pedagógicas e as diretrizes curriculares estejam defasadas, a inteligência artificial já está incorporada ao contexto educacional brasileiro. E mais: os estudantes têm tido uma significativa contribuição no impulsionamento do uso dessa tecnologia nos espaços acadêmicos.
Chama a atenção a velocidade com que o conhecimento e a utilização da inteligência artificial têm se disseminado entre os estudantes. Em relação a 2023, foi registrado um crescimento de 11% na quantidade de universitários e futuros universitários que conhecem pelo menos uma ferramenta de IA. Já entre os que utilizam desse recurso para suas atividades acadêmicas o aumento foi de 18%.
Vale lembrar que o ChatGPT, primeiro chatbot de IA disponibilizado para o público geral, foi lançado em novembro de 2022. Até aquele momento, o debate em torno dos desdobramentos e impactos da inteligência artificial na esfera educacional estava no campo das ideias. Fomos pegos de surpresa por algo que do dia para a noite nos obrigou a repensar uma série de procedimentos, como a avaliação.
Fato é que ChatGPT, Gemini, CopyAI, IBM Watson e tantas outras ferramentas movidas por inteligência artificial são apenas o começo de um novo mundo em construção. Provavelmente, muito em breve seremos impactados com o lançamento de um novo recurso ainda mais potente e até então impensável. E depois outro, e outro.
Como nós, educadores, podemos nos preparar para as novas possibilidades? Concordo que é difícil se planejar para algo que não se sabe o que é. Contudo, assim como a inteligência artificial chegou sem pedir licença e já faz parte da rotina das escolas e faculdades por meio de chatbots e outras tecnologias, novos cenários também serão integrados à medida em que forem surgindo.
Assim, ainda que não estejamos preparados para a operacionalização da nova tecnologia em si, precisamos estar sempre alerta e prontos para fazer a melhor aplicação possível dela no ambiente acadêmico. Mais do que perda de tempo, lutar contra essa realidade é ir contra o desenvolvimento da educação em si. O século 21 impõe maior velocidade de adaptação e uma educação pautada por novas diretrizes, entre elas a tecnologia.
Pensando nisso, compartilho que a minha primeira indicação enquanto conselheiro do Conselho Nacional de Educação (CNE) foi exatamente a criação de uma comissão para estudar os impactos e a utilização da inteligência artificial na educação. A proposta foi aprovada de imediato, seguida pela minha indicação como relator.
Antes de concluir, quero refletir brevemente sobre outros dois pontos levantados pela pesquisa. Primeiro, a constatação de que 92% dos estudantes e prospects consideram as ferramentas de IA eficaz ou muito eficaz para a resolução de problemas e dúvidas, ou seja, ela se tornou um instrumento importante no processo de construção do conhecimento. Além disso, 84% dos entrevistados acreditam que a inteligência artificial vai substituir parcialmente (62%) ou totalmente (22%) os professores.
Sobre este último aspecto, por mais entusiasta da tecnologia que eu seja, acredito que o professor nunca será totalmente substituído. A tecnologia pode, sim, ajudar em tarefas como a preparação de aulas e a correção de avaliações e trabalhos, mas a figura do professor seguirá sendo fundamental para o processo de ensino e aprendizagem. O que provavelmente vai acontecer é termos uma mudança no perfil do professor, mas isso já é assunto para outro artigo…